As melhores leituras do ano. E a pior: E L James leva Prêmio Menino do Acre
10 livros de ficção, 10 de não ficção e cinco quadrinhos. Aí estão os destaques das leituras que fiz ao longo de 2019 – não são livros necessariamente publicados neste ano, ressalto. Naturalmente, já escrevi sobre quase todos eles por aqui (quando gosto, compartilho logo com vocês), então não ficarei sendo repetitivo, deixarei a indicação com o link para resenhas, comentários ou reportagens. Dedico algumas poucas linhas apenas aos quatro títulos que, por razões diversas, ainda não tinha mencionado Página Cinco.
Antes das listagens, algumas considerações. Tinha 12 livros de ficção para indicar, mas queria fechar listas com no máximo dez nomes. Caíram fora títulos que ainda não saíram no Brasil: "La Casa de Los Conejos", de Laura Alcoba (Edhasa), e "Kentukis", de Samanta Schweblin (Random House). E merece uma menção o volume de contos "Perifobia", de Lilia Guerra (Patuá); se não fica exatamente entre os dez melhores, está entre os que li e deveriam ser mais valorizados.
Finalmente, o Prêmio Menino do Acre – Troféu Auto Revolucionar-se a Si Mesmo, criado em homenagem a "TAC – Teoria da Absorção do Conhecimento", de Bruno Borges, certamente a pior coisa que já li na vida. No ano passado a distinção foi para Ernesto Araújo, nosso chanceler, pelo conjunto da obra ficcional. Neste ano, pensei em destinar o troféu metafórico a Kristen Roupenian pelo seu tão badalado quanto medíocre "Cat Person e Outras Histórias" (Companhia das Letras). Marie Kondo também entrou na mira por conta do assustador "A Mágica da Arrumação" (Sextante). No entanto, convenhamos, os contos de Kristen são medianos, apenas isso (o maior problema com ela foi a expectativa que criaram), e Kondo certamente jogaria fora o prestigioso prêmio antes mesmo de chegar em casa. Tenho certeza de que o Auto Revolucionar-se a Si Mesmo ficará muito bem na estante da sala de E. L. James pelo terrível "Mister" (Intrínseca), mais um pornô fajuto cometido pela moça.
Os livros foram dispostos de maneira aleatória em cada lista, sem qualquer ordem de preferência.
Ficção
– "Ponciá Vicêncio", de Conceição Evaristo (Pallas) – impressionante a potência desse romance de 118 páginas. A trajetória da protagonista – sua busca por condições melhores para se viver e seus dramas particulares e familiares – é exemplo de história que deveria estar muito mais presente em nossa literatura contemporânea.
– "Marrom e Amarelo", de Paulo Scott (Alfaguara)
– "Os Donos do Inverno", de Altair Martins (Não Editora)
– "Previsão Para Ontem", de Henrique Rodrigues (Cousa)
– "Serotonina", de Michel Houellebecq (Alfaguara)
– "Poesia", de Bertolt Brecht (Perspectiva)
– "Morra, Amor", de Ariana Harwicz (Instante)
– "A Ordem do Dia", de Éric Vuillard (Tusquets)
– "Noite em Caracas", de Karina Sainz Borgo (Intrínseca)
– "A Literatura Nazista na América", de Roberto Bolaño (Companhia das Letras)
Não ficção
– "O Tiradentes – Uma Biografia de Joaquim José da Silva Xavier", de Lucas Figueiredo (Companhia das Letras) – exímio trabalho de pesquisa e escrita do jornalista Lucas Figueiredo, que entrega ao leitor um Tiradentes que vai muito além do mito que conhecemos nas aulas de história, passando pelas suas idiossincrasias e os diversos perrengues que viveu até terminar na forca. É também um ótimo retrato daquele Brasil da segunda metade do século 18, que guarda mais semelhanças com o país atual do que podemos supor.
– "Carolina: Uma Biografia", de Tom Farias (Malê) – olhando apenas para a questão política e social do país, a história de Carolina soa como uma continuação da história de Tiradentes. No plano biográfico, no entanto, temos a vida da autora de "Quarto de Despejo", fortemente marcada pela miséria e pelo racismo, mas também pela resiliência. Os três livros que ganharam comentários específicos até aqui, aliás – este, "O Tiradentes" e "Ponciá Vicêncio" – ajudam em muito a entender a formação da nossa sociedade.
– "Mariguella – O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo", de Mário Magalhães (Companhia das Letras) – (do mesmo autor, menção honrosa para "Sobre Lutas e Lágrimas", Record, livro que tende a se tornar ainda mais importante com o passar dos anos)
– "Escravidão – Volume 1", de Laurentino Gomes (Globo Livros)
– "O Educador – Um Perfil de Paulo Freire", de Sérgio Haddad (Todavia)
– "Nada se Vê", de Daniel Arasse (Editora 34)
– "Como Mudar Sua Mente", de Michael Pollan (Intrínseca)
– "Cork Dork – Loucos por Vinho", de Bianca Bosker (Sesi-SP)
– "Jorge Amado – Uma Biografia", de Joselia Aguiar (Todavia)
– "O Fascismo Eterno", de Umberto Eco (Record)
Quadrinhos
– "Silvestre", de Wagner William (Darkside Graphic Novel) – as páginas dessa graphic novel deveriam estar expostas em quadros pendurados nas paredes de algum grande museu. Perturbadora, selvagem, lírica, surpreendente, complexa, com uma natureza nada idealizada… É uma maravilha essa obra que mistura Henry David Thoreau com lendas e misticismo. Pretendo escrever com mais calma sobre ela no começo do ano que vem.
– "Manifesto Comunista em Quadrinhos", adaptação de Martin Rowson (Boitempo)
– "A Mão do Pintor", de María Luque (Lote 42)
– "Malvados", de André Dahmer (Quadrinhos na Cia.)
– "Golias", de Tom Gauld (Todavia)
Prêmio Menino do Acre – Troféu Auto Revolucionar-se a Si Mesmo
– "Mister", de E. L. James (Intrínseca)
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