Os melhores livros lidos em 2018 + Prêmio Menino do Acre
Ano chegou ao fim. Deixo aqui quatro listas com as melhores leituras que fiz nesses últimos 12 meses, uma breve relação de livros bons que comecei a ler e ainda não consegui terminar, uma ainda mais breve com livros que se saíram muito aquém do que eu esperava e uma novidade: o Prêmio Menino do Acre – Troféu Auto Revolucionar-se a Si Mesmo para a pior leitura do ano. Vale ressaltar que os livros foram lidos em 2018, mas não necessariamente lançados neste ano. Como já falei de muitos deles por aqui, deixarei links para textos ao final das breves justificativas.
Melhores leituras de literatura nacional
"Com Armas Sonolentas", Carola Saavedra (Companhia das Letras) – romance sobre maternidade e ancestralidade complexo e muitíssimo bem arquitetado.
"Sobrevivendo no Inferno", Racionais (Companhia das Letras) – os poemas do principal grupo de rap do país mostram uma potência ainda maior no papel. (Resenha)
"Pai, Pai", João Silvério Trevisan (Alfaguara) – um brutal expurgo de Trevisan sobre a relação com o pai e sua formação sentimental. (Comentário e entrevista com o autor)
"Tudo Pode Ser Roubado", Giovana Madalosso (Todavia) – romance divertido, conduzido por personagens cativantes. (Comentário)
"A Fada Sem Cabeça", Luís Henrique Pellanda (Arquipélago) – o terror e o horror desfilam pelos contos do livro, enquanto a masculinidade está sempre na berlinda. (Comentário)
"Enquanto os Dentes", Carlos Eduardo Pereira (Todavia) – um narrador potente, colado no protagonista cadeirante, num romance sobre a dificuldade de conduzirmos nossas próprias vidas. (Perfil do autor)
"O Pai da Menina Morta", Tiago Ferro (Todavia) – o lido com tragédia sem autocomiseração – e com sexo. (Comentário)
"A Cobrança", Mario Rodrigues (Record) – era Collor, Brasil profundo e um irmão para "O Drible", de Sérgio Rodrigues, entre nossos grandes romances sobre futebol. (Resenha)
"A Tirania do Amor", Cristovão Tezza (Todavia) – o protagonista vive um parafuso pessoal enquanto o Brasil vai ladeira abaixo; romance que traz muito do que estamos vivenciando no país. (Entrevista com o autor)
"A Peça Intocada", Luci Collin (Arte e Letra) – mais uma bola dentro de uma das nossas autoras mais inventivas e complexas.
Melhores leituras de literatura estrangeira
"As Pessoas do Drama", H. G. Cancela (Relógio d'Água) – romance denso e intenso, muitas vezes provocativo, de um autor português que merece ser descoberto pelos brasileiros.
"República Luminosa", Andrés Barba (Todavia) – como lidar com selvagens que batem à nossa porta? E quando esses selvagens são crianças? Barba tem a provocação.
"Gungunhana", Ungulani Ba Ka Khosa (Kapulana) – reunião de dois ótimos livros sobre um dos mitos centrais na formação de Moçambique, escritos por um dos autores mais importantes do país. (Comentário)
"Canção de Ninar", Leila Slimani (Tusquets) – o que pode acontecer quando alguém estoura ao notar que se dedica mais a manter um emprego medíocre para seguir sobrevivendo do que a cuidar de verdade da própria vida? Bem, o romance começa com um bebê morto e com uma menina que não sobreviverá… (Comentário)
"Era Uma Vez Uma Mulher que Tentou Matar o Bebê da Vizinha", Liudmila Petruchévskaia (Companhia das Letras) – horrores, estanhamentos e absurdos em contos cheios de memórias de guerra que muitas vezes beiram o surrealismo. (Comentário)
"Baratas", Scholastique Mukasonga (Nós) – a história da segregação entre hutus e tutsis que resultou no genocídio destes em 1994 vivenciada na perspectiva da própria autora. (Resenha)
"Só Para Maiores de Cem Anos", Nicanor Parra (Editora 34) – magistral e inédita coletânea de poemas de um dos nomes mais importantes da poesia no século 20.
Melhores leituras de não ficção
"Deus: Uma História Humana", Reza Aslan (Zahar) – um longo ensaio sobre a formação de nossa ideia de deus. (Resenha)
"Blue Nights", Joan Didion (Harper Collins) – irmão de "O Ano do Pensamento Mágico", traz Didion buscando algum sentido para a própria vida após a perda de sua filha ao mesmo tempo que precisa lidar com seu declínio na velhice.
"Livrarias: Uma História de Leitura e de Leitores" (Bazar do Tempo), Jorge Carrión – um ótimo passeio pelas livrarias mais cativantes do mundo; uma declaração de amor aos livros. (Resenha)
"Dez Argumentos Para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais", Jaron Lanier (Intrínseca) – bem, o nome já diz tudo, mas importante ressaltar que Lanier é quase que um gênio da informática e do mundo digital. (Resenha)
"A Morte da Verdade", Michiko Kakutani (Intrínseca) – um ensaio sobre como a ignorância e o obscurantismo têm dominado nosso mundo. (Resenha)
"Cartas da Prisão", Nelson Mandela (Todavia) – aula sobre afeto e resistência mesmo quando trancafiado por décadas. (Resenha)
"Paletó e Eu: Memórias do meu Pai Indígena", Aparecida Vilaça (Todavia) – abordagem pessoal, original e necessária sobre a troca entre "homens brancos" e indígenas. (Resenha)
"Assassinos da Lua das Flores", David Grann (Companhia das Letras) – indígenas milionários donos de reservas de petróleo e uma série de assassinatos que levam à criação do que se transformaria no FBI. (Resenha)
"Garotas Mortas", Selva Almada (Todavia) – uma investigação sobre três crimes ocorridos na Argentina na década de 1980 e ainda não solucionados que escancaram a urgência de falarmos sobre e combatermos o feminicídio. (Comentário)
"A Comuna de Paris", John Merriman (Anfiteatro) – uma aula sobre um dos momentos mais utópicos da história humana, brutalmente reprimido e aniquilado pelas forças oficiais. (Resenha)
Melhores leituras de quadrinhos
"Paraíso Perdido", John Milton e Pablo Auladell (Darkside) – um épico com desenhos dignos de serem transformados em quadros. (Comentário)
"Asa Quebrada", Antonio Altarriba e Kim (Veneta) – homens subjugando mulheres enquanto lutam por ideais elevados (ou supostamente elevados). (Comentário)
"Rosale Lightning", Tom Hart (Nemo) – autobiográfico, mostra a luta do autor para seguir a vida após perder a filha pequena.
"A Revolução dos Bichos", George Orwell e Odyr (Quadrinhos na Cia) – fabulosa adaptação de um dos principais livros do século 20. (Reportagem)
"A Terra dos Filhos", Gipi (Veneta) – um monumento à incomunicabilidade, ao silêncio e à inquietação. (Comentário)
"Kobane Calling", Zerocalcare (Nemo) – a guerra da Síria pela perspectiva de um quadrinista que adora se ironizar. (Comentário)
"Uma Vida Chinesa", P. Ôtié e Li Kunwu (Martins Fontes) – três volumes que narram o passado recente da China e sua "Revolução Cultural". (Comentário)
"Justin", Gauthier (Nemo) – uma jornada muitas vezes dura sobre a descoberta da própria sexualidade. (Resenha)
"Jeremias – Pele", Rafael Calça e Jefferson Costa (Panini) – por falar em dureza, aqui temos o clássico personagem da "Turma da Mônica" em uma triste e necessária história sobre racismo. (Resenha)
"Ayako", Osamu Tezuka (Veneta) – o submundo podre do Japão maquiado e sustentado por tradições milenares. (Resenha)
Melhores livros que comecei a ler e ainda não consegui terminar
"Jorge Amado: Uma Biografia", Joselia Aguiar (Todavia) – a vida de um dos nossos maiores escritores em uma obra que também perpassa pela história do país no século 20.
"Tupinalândia", Samir Machado de Machado (Todavia) – divertida mistura brasileira de "Indiana Jones" com "Jurassic Park".
"A Biblioteca Elementar" (Record), Alberto Mussa – último volume do Compêndio Mítico do Rio de Janeiro, parece mais uma vez trazer todo o brilhantismo de Mussa.
Decepções do ano
"A Uruguaia", Pedro Mairal (Todavia) – romance incensado que possui mais buracos na história do que um queijo suíço.
"Assombrações", Domenico Starnone (Todavia) – depois do pujante "Laços", que tem rancor para tudo que é lado, Starnone parece ter sido contaminado pelo seu novo protagonista e perdido o viço, entregando ao leitor essa lenga-lenga sonolenta de um avô com seu insuportável netinho.
Pior leitura do ano: Prêmio Menino do Acre – Troféu Auto Revolucionar-se a Si Mesmo
Como nem só de grandes leituras vive o homem, decidi criar um galardão para o pior livro engolido no ano. Este Prêmio Menino do Acre é também uma homenagem ao acinte que Bruno Borges cometeu no ano passado com "Teoria da Absorção do Conhecimento", indiscutivelmente a pior coisa que li na vida. O vencedor leva simbolicamente para casa o Troféu Auto Revolucionar-se a Si Mesmo, referência a uma das frases já clássicas cunhadas pelo garoto sumidiço.
E nesta primeira edição o prêmio não vai somente para um livro, mas para um combo de leituras que fiz de um mesmo autor. Sim, falo de "A Porta de Mogar", "Xarab Fica" e "Quatro 3", todos publicados pela Alfa Omega – aqui a resenha das peças. Parabéns, futuro chanceler Ernesto Araújo, o Troféu Auto Revolucionar-se a Si Mesmo é seu!
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