Prêmios literários em 2018: ótimo ano para as mulheres e para a poesia
Na sexta-feira passada o Oceanos divulgou o resultado da edição deste ano do prêmio. Com isso, a temporada de cheques e estatuetas dos principais certames literários que envolvem escritores brasileiros chega ao fim. Abaixo, repasso os vencedores dessas premiações e, na sequência, faço algumas observações sobre os agraciados – lembrando que, como em outros anos, foco nos trabalhos de ficção adulta (romances, novelas, contos e poesia). Aliás, se quiser recordar, aqui estão os balanços de 2016 e 2017.
Biblioteca Nacional*
Contos: "Alguns Humanos", Gustavo Pacheco (Tinta-da-China)
Romance: "Nunca Houve Tanto Fim Como Agora", Evandro Affonso Ferreira (Record)
Poesia: "Etiópia", Francesca Angiolillo (7 Letras)
*Diferente dos outros prêmios aqui relacionados, o Biblioteca Nacional agracia livros publicados no ano vigente, não os lançados no ano anterior.
Jabuti
Livro do Ano de Ficção: "À Cidade", Mailson Furtado Viana (Edição independente)
Romance: "O Clube dos Jardineiros de Fumaça", Carol Bensimon (Companhia das Letras)
Conto: "Enfim, Imperatriz", Maria Fernanda Elias Maglio (Patuá)
Poesia: "À Cidade", Mailson Furtado Viana (Edição independente)
Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa
1º lugar: "Câmera Lenta", Marília Garcia (Companhia das Letras)
2º lugar: "Hoje Estarás Comigo no Paraíso", Bruno Vieira Amaral (Quetzal)
3º lugar: "A Noite Imóvel", Luís Quintais (Assírio Alvim)
4º lugar: "O Deus Restante", Luís Carlos Patraquim (Cavalo do Mar)
Prêmio São Paulo de Literatura
Romance do ano: "Assim na Terra Como Embaixo da Terra", Ana Paula Maia (Record)
Romance de autor estreante com mais de 40 anos: "Oito do Sete", Cristina Judar (Reformatório)
Romance de autor estreante com menos de 40 anos: "O Peso do Pássaro Morto", Aline Bei (Nós)
Ano da poesia: o livro de poemas "À Cidade", de Mailson Furtado Viana, levou o troféu máximo do Jabuti. Já no Oceanos, que julga ainda contos e romances, a poesia também dominou: "O Deus Restante", do moçambicano Luís Carlos Patraquim, "A Noite Imóvel", do português Luís Quintais, e "Câmera Lenta", da carioca Marília Garcia, a grande vencedora, são trabalhos do gênero. Além disso, apenas para registro, o troféu específico para poetas do Biblioteca Nacional foi para "Etiópia", de Francesca Angiolillo. Os galardões mostram que 2018 foi um ano muito bom para a poesia.
Prêmios para as mulheres: os 14 prêmios listados acima foram para 13 autores diferentes, sendo sete mulheres (Aline Bei, Cristina Judar, Ana Paula Maia, Marília Garcia, Maria Fernanda Elias, Carol Bensimon e Francesca Angiolillo). O domínio absoluto no Prêmio São Paulo foi decisivo para que tivéssemos essa bem-vinda maioria.
A história: a grande história por trás de um título premiado, no entanto, é a do jovem Mailson Furtado Viana, 27 anos, dentista que vive em Cariré, pequena cidade no interior do Ceará. Apaixonado por poesia, ele cuidou até da capa do seu livro e tirou do bolso a grana para bancar a edição independente de "À Cidade", algo bastante simbólico num momento em que livrarias e editoras passam por um caos financeiro. No entanto, se a história do autor é boa, o texto, o que realmente importa, não agradou todo mundo. Em resenha para a Folha, o crítico Ricardo Domeneck apontou que a obra possui uma "poética nacional, reconhecível, batida e tardo-modernista". Quem quiser tirar a própria conclusão, Mailson colocou a versão digital de "À Cidade" à venda na Amazon por R$19,90.
Justo? Ainda sobre o Jabuti, após a reformulação pela qual o prêmio passou neste ano, contos e crônicas, que até então eram julgados como uma coisa só, ganharam categorias próprias. Se a mudança é pra lá de oportuna, a escolha do vencedor em crônicas desagradou muita gente. Faz sentido dar em 2018 um prêmio literário para um autor que morreu em 1990 por conta de uma nova coletânea que reúne textos escritos entre 1948 e 1988? Foi o que fizeram ao agraciar "O Poeta e Outras Crônicas de Literatura e Vida", de Rubem Braga, publicado pela Global. Se a moda pega, logo Machado de Assis e Graciliano Ramos também estarão no páreo de nossas premiações.
O injustiçado: para mim, "Pai, Pai", de João Silvério Trevisan (Alfaguara), foi o grande injustiçado do ano. O brutal romance assumidamente autobiográfico sobre a formação sentimental do autor merecia ter ficado com algum troféu. Um dos grandes livros brasileiros dos últimos anos, chegou à final do Oceanos, mas não levou. Aliás, ainda sobre os finalistas do Oceanos, fui jurado da primeira fase do prêmio e ali conheci "As Pessoas do Drama", de H. G. Cancela (Relógio D'Água), outro que me agradou muito e que também ficou no quase.
Olho no Sesc: não listo acima por se tratar de uma premiação voltada para inéditos, mas é sempre importante ficarmos atentos ao Prêmio Sesc, responsável por dar um gás no início da carreira de diversos ótimos autores. Dos vencedores do ano passado, José Almeida Júnior e seu "Última Hora" chegaram à final do Prêmio São Paulo. Ainda não li os vencedores deste ano – o volume de contos "As Coisas", de Tobias Carvalho, e o romance "Entre as Mãos", de Juliana Leite -, mas só ouvi elogios aos dois até aqui. Pelo histórico do Sesc e seus agraciados, são boas as chances de vê-los no ano que vem disputando outros troféus.
Distribuição editorial: voltando aos prêmios centrais para este texto, os 13 títulos listados acima saíram por 10 editoras diferentes (apenas a Record e a Companhia das Letras possuem dois vencedores), além de termos uma publicação independente. Como disse no ano passado, acho essa diversificação ótima, representa um panorama mais plural de nossa literatura.
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