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Os cinco melhores livros da segunda metade de 2015

Rodrigo Casarin

22/12/2015 12h37

Final de ano, época de listas. Dos livros que li neste segundo semestre de 2015, aqui estão os cinco que mais gostei – não necessariamente eles foram lançados nesse período, veja bem. Exclui da lista os títulos vencedores de prêmios literários recentes que resenhei – "Mil Rosas Roubadas", de Silviano Santiago, "Quarenta Dias", de Maria Valéria Rezende, "O Senhor Agora Vai Mudar de Corpo", de Raimundo Carrero, e "Enquanto Deus Não Está Olhando", de Débora Ferraz -, que já ganharam um justo espaço por aqui. Na próxima semana irei publicar textos inéditos de autores que lançaram bons romances ao longo deste ano (Marcos Peres, Edyr Augusto, Marcelo Maluf, Henrique Rodrigues e Julián Fuks), então também optei por não cogitar esses nomes para a lista. Vamos, enfim, aos meus cinco destaques:

o vento que arrasa

"O Vento que Arrasa" , de Selva Amada – Um embate entre duas formações para o mundo, entre a natureza e a religião, entre a suposta ignorância e o suposto saber superior daquele que crê piamente em algo, também uma história sobre aqueles encontros que mudam bruscamente as nossas vidas. Romance da argentina Selva Amada que se passa no interior do país vizinho, em uma realidade muito diferente da buenairense que costumamos ver. Um padre acompanhado de sua filha para em uma oficina no meio da estrada, onde conhecem um mecânico e um garoto que talvez seja seu filho: é esse o ponto de partida para um dos melhores livros que li nos últimos tempos.

Asco

"Asco" , de Horacio Castellanos Moya – novela de força brutal do hondurenho Horacio Castellanos Moya, que apresenta o desabafo de um intelectual radicado no Canadá sobre as mazelas de San Salvador, capital de Honduras, apresentada aqui como o pior canto do mundo. Leitura especialmente recomendada àqueles que pensam, tal qual o protagonista da narrativa, que o lugar onde nasceram – o Brasil, no caso – é o que há de mais repugnante na Terra. Falei mais sobre a obra aqui.

mulheres de cinzas

"Mulheres de Cinzas" , de Mia Couto – primeiro livro da trilogia "As Areias do Imperador", em "Mulheres de Cinzas" o moçambicano Mia Couto inicia um romance histórico sobre o sul de seu país no século 19. Apesar de tratar de um tempo remoto, as conexões da narrativa com nossa contemporaneidade são enormes. "Nas minas não há corpos. É tudo terra, pedras e gente, vivos e mortos: tudo terra, dentro da terra", escreve em determinado trecho, por exemplo. Entrevistei o autor aqui há poucas semanas.


uma metamorfose iraniana

"Uma Metamorfose Iraniana" , de Mana Neyestani – Em 2006, após desenhar uma conversa entre uma criança e uma barata para o suplemento infantil de um jornal, o iraniano Mana Neyestani passou a ser visto como um pária pelos azeris, povo que vive sob opressão no norte de seu país. Com uma série de desentendimentos e oportunismos políticos vindos de Teerã, o desenhista chegou a ser preso e, quando conseguiu liberdade provisória, fugiu do Irã. Em "Uma Metamorfose Iraniana", apoia-se em Kafka para construir uma HQ que, mais do que sua experiência pessoal, mostra muito de como funciona o regime totalitário do lugar onde vivia.

maracanazo

"Maracanazo" , de Arthur Dapieve – Entra na lista somente pela novela que dá nome ao livro – composto também por quatro contos. "Maracanazzo" é excelente e merecia estar em um volume somente seu. No texto, Dapieve parte do jogo entre Chile e Espanha na Copa de 2014 para construir uma história sobre violência e extremismo político, apoiada na ralação entre um torcedor espanhol e uma brasileira que torcia para a seleção que ganharia a Copa América no ano seguinte. Escrevi mais sobre a obra aqui.

Os cinco melhores do primeiro semestre estão aqui.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.