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Gabriel O Pensador: Artista pode ser censurado, mas nunca totalmente calado

Rodrigo Casarin

22/08/2019 08h04

Gabriel O Pensador em foto de Ayrton Vignola/ Folhapress

A 19ª edição da Bienal Internacional do Livro do Rio começará na sexta-feira da próxima semana, dia 30, e irá até 8 de setembro. Ao longo desses dez dias, mais de 300 autores nacionais e internacionais passarão pelo Riocentro para sessões de autógrafos, espetáculos, palestras e debates que abordarão temas como fake news, meio ambiente, escravidão, democracia e feminismo – toda programação pode ser vista aqui.

A pedido da organização da Bienal, alguns dos convidados mandaram perguntas a colegas que também estarão no evento. Semana passada divulguei aqui as respostas que a atriz Maria Ribeiro deu às questões do filósofo Mario Sergio Cortella. No site da Bienal também há papos trocados entre Akapoeta e Guilherme Pintto e Guilherme Pintto e Viviane Mosé.

Agora, fechando essas entrevistas, a organização disponibilizou ao Página Cinco as respostas que o músico e compositor Gabriel O Pensador (também estranho a ausência da vírgula), autor de "Diário Noturno" e "Um Garoto Chamado Roberto" (ambos da Melhoramentos), deu para as respostas feitas pela atriz Maria Ribeiro. Na pauta, temas como o valor literário de letras de música, redes sociais, livros que mudaram a vida e o impacto do governo atual na produção artística. Confira:

Maria Ribeiro: Você é músico e escritor em um país de grandes letristas como Chico [Buarque] e Caetano [Veloso]. Letra de música é literatura? O que achou do Nobel [de Literatura] para o [Bob] Dylan [em 2016]?

Gabriel: Ele é um grande letrista, capaz de espelhar conflitos da vida real com uma grande carta poética. Eu gostei pelo reconhecimento a ele especificamente e pelo entendimento em geral de que letras de música também podem ser consideradas uma vertente da literatura.

Maria Ribeiro: Você ganhou um Jabuti com seu primeiro livro infantil ["Um Garoto Chamado Roberto"]. Qual é o peso de um prêmio?

Gabriel: O reconhecimento de especialistas em relação ao nosso trabalho é sempre um incentivo. Acredito que o maior peso do prêmio é este: o de apoiar com o reconhecimento do valor a perseverança do premiado em continuar cada vez buscando um melhor resultado.

Maria Ribeiro: A política sempre esteve muito presente no seu trabalho. Dá pra fazer literatura com o governo de hoje?

Gabriel: Eu consegui fazer música durante os últimos 25 anos, sob os mais diferentes governos no poder no Brasil. Protestei sempre. Acredito que a história mostra que o artista não consegue ser tolhido em sua criatividade – pode ser censurado, mas nunca totalmente calado ou "proibido".

Maria Ribeiro: Qual é a tua relação com as redes sociais? Sente que te roubam o tempo de ler e escrever?

Gabriel: Não. Eu não sou escravo de redes sociais. Elas me ajudam a comunicar, principalmente com o público em geral. Não conseguem roubar meu tempo.

Maria Ribeiro: Quais foram os cinco livros que mais mudaram a sua vida? Aqueles você sentiu ter saído transformado depois da leitura? Acha que a escrita tem esse poder?

Gabriel: Ler é sempre interessante, não necessariamente o que chamamos de "literatura". Eu gostava muito dos gibis quando aprendi a juntar as palavras. Os livros do Amyr Klink que foram sugeridos pela escola, como "Mar Sem Fim" (Companhia das Letras), já semearam em mim alguma coisa desse espírito aventureiro.

"Assim falou Zaratustra", do Nietzsche, me inspirou na época da gravação do CD "Cavaleiro Andante". "Ensaio Sobre a Cegueira", do Saramago (Companhia das Letras), também mexeu muito comigo. Além disso, gostava de ler algumas biografias quando era adolescente e recomendo pra quem gosta de música a do Keith Richards ["Vida", autobiografia publicada pela Globo Livros] ou a do Tim Maia ["Vale Tudo", de Nelson Motta, lançada pela Objetiva].

Também curto ler contos. Quando era adolescente curtia Nelson Rodrigues e Rubem Fonseca. Um livro famoso que li nessa época foi o "Encontro Marcado", do Fernando Sabino (Record), e mais adiante usei uma frase dele na música "Tudo Certo": "Confia em mim que no fim dá tudo certo/ Se ainda não deu certo é porque ainda não chegou no fim".

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.