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Nazismo é comunismo? Adolf Hitler confere

Rodrigo Casarin

19/09/2018 14h45

Alguns brasileiros resolveram passar vergonha e contestar a Embaixada da Alemanha sobre o nazismo. O órgão publicou um vídeo no qual mostra como a ideologia pregada por Adolf Hitler era de extrema-direita e deve ser combatida por qualquer pessoa "normal" – é essa a palavra que usam. Sábios tupiniquins, no entanto, revoltaram-se e passaram a atacar a Embaixada e, por extensão, a própria Alemanha. Para esses conterrâneos, não há dúvidas de que toda a barbárie promovida por Hitler foi algo de esquerda, afinal, o partido nazista levava o termo "Nacional-Socialista" em seu nome – pela lógica, essas pessoas devem ter certeza de que a República Popular Democrática da Coreia, mais conhecida como Coreia do Norte, é uma democracia.

Em uma entrevista publicada em 1923 e resgatada em 2007 pelo jornal britânico The Guardian, o próprio Hitler falava sobre isso. Entre dizer que é preciso aniquilar qualquer traço bolchevique da Alemanha e refutar tratados de paz, também justifica o nome de seu partido. "Socialismo é lidar com o bem comum. Comunismo não é Socialismo. Marxismo não é Socialismo. Os marxistas roubaram o termo e bagunçaram seu significado".

Hitler explica que, para ele, o socialismo era uma antiga instituição "ariana" e "germânica" e embasa sua tese lembrando que os antepassados locais dividiam a terra e lutavam pelo bem de todos seus membros – como as antigas comunidades no geral faziam, diga-se. "O Marxismo não tem o direito de se disfarçar de socialismo. O socialismo, ao contrário do marxismo, não repudia a propriedade privada […] e, ao contrário do marxismo, é patriótico. Poderíamos ter nos denominado o Partido Liberal", continua – toda a matéria em inglês pode ser lida aqui.

Nessa loucura de tratar o nazismo como um movimento de esquerda, acho oportuno o resgate de um post que escrevi no ano passado, quando fui ler o "Minha Luta", a autobiografia de Adolf Hitler, para ver quais eram suas ideias ali apresentadas sobre o tema. Deixo aqui o que encontrei naquele tratado à estupidez:

Esses trechos de "Minha Luta", autobiografia panfletária de Adolf Hitler, mostram claramente que o mentor de toda a tragédia jamais imaginou alguma proximidade entre os nazistas e qualquer ideia que possa ser atrelada ao pensamento de esquerda. Veja como o ditador do bigodinho ridículo ataca os principais nomes e ideologias associados a tal espectro político e a todo momento olha para os comunistas e marxistas da mesma forma que olhava para os judeus.

Para Hitler, o marxismo era uma ameaça tão grave quanto o judaísmo:

"Foi durante esse período que meus olhos foram abertos a dois perigos cujos nomes eu mal conhecia e não tinha nenhuma noção de seu terrível significado para a existência do povo alemão. Estes dois perigos eram o marxismo e o judaísmo".

Tem mais marxismo e judaísmo:

"Se os judeus, com o auxílio do marxismo, conquistarem as nações do mundo, essa aliança será a coroa fúnebre da raça humana, e este planeta mais uma vez vagará pelo éter, sem ser habitado por qualquer vida humana, como aconteceu há milhões de anos".

Aqui, vai mais além e ataca diretamente Marx:

"Entre os milhões de indivíduos de um mundo que lentamente se corrompia, Karl Marx foi, de fato, um que reconheceu, com o olho seguro de um profeta, a verdadeira substância tóxica e a apanhou para, como um necromante, aniquilar rapidamente a vida das nações livres da terra. Tudo isso, porém, a serviço de sua raça".

Sobre o crescimento do comunismo na Rússia:

"A massa de russos analfabetos não foi arrastada para uma revolução comunista pela leitura de um teórico como Karl Marx, mas sim pelas promessas de paraíso feitas por milhares de agitadores que pregavam para o povo a serviço de uma ideia".

As pessoas de esquerda não eram amigas, bem pelo contrário:

"Escolhemos o vermelho para nossos cartazes depois de uma deliberação especial e cuidadosa, nossa intenção era irritar a esquerda, de modo a despertar a atenção [de seus simpatizantes] e tentar atrai-los às nossas reuniões – apenas para quebrá-los – para que, dessa forma, tivéssemos uma oportunidade de falar com essas pessoas".

Para Hitler, quem estava por trás da Revolução Russa eram os "judeus internacionais"

"Não devemos esquecer que o judeu internacional, que hoje comanda a Rússia, não olha para a Alemanha como um aliado, mas como um estado condenado à mesma sorte da Rússia".

Ele assume diferença entre socialismo e sua concepção de social-democracia:

"Aos dezessete anos, conhecia muito pouco a palavra 'marxismo', enquanto socialismo e social-democracia me pareciam termos idênticos. Também neste caso foi preciso que um golpe do destino me abrisse os olhos para a incomparável natureza desse sistema e sua maneira de ludibriar o povo".

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.