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Finn: Redes sociais são feitas para encorajar usuários a se sentirem mal

Rodrigo Casarin

05/08/2018 08h26

Editor de livros e crítico literário, o norte-americano Dan Mallory tirou uma licença de algumas semanas do trabalho para tentar um novo tratamento para a depressão contra a qual lutava há mais de década. Foi nessa folga, enquanto assistia aos filmes pelos quais é apaixonado, que teve a ideia de ele mesmo escrever um romance. É essa a gênese de "A Mulher na Janela" (Arqueiro), que Mallory assina como A. J. Finn, obra que virou best-seller do The New York Times e já foi negociada com pelo menos 38 países.

O livro é protagonizado por Anna Fox, psicóloga que sofre de agorafobia – um transtorno de ansiedade – e fica trancafiada em casa bebendo, assistindo a filmes e cuidando da vida dos outros. Sua rotina é quebrada quando ela observa pela janela um de seus novos vizinhos cometendo o que parece ser um crime. No entanto, pelos problemas de Anna, muitos custam a acreditar em suas palavras. É com essa premissa que a trama, comparada ao romance de Paula Hawkins "A Garota do Trem" e elogiada por fãs pelas surpreendentes reviravoltas, se desenrola.

Convidado da Bienal Internacional do Livro de São Paulo deste ano, onde participa neste domingo de um papo na Arena Cultural, Finn assume que um dos principais objetivos ao escrever "A Mulher na Janela" era contar para os jovens uma história que abordasse o luto e a solidão. "Há pouco li uma matéria sobre o suicídio de uma modelo de trinta e dois anos. Isso ressalta o quanto é urgente reconhecer e discutir questões relacionadas à saúde mental", comenta o autor em entrevista ao blog.

Finn diz que a publicação do livro em diversos países foi o evento mais emocionante da sua vida e a parte mais gratificante do trabalho é ouvir os leitores falando sobre suas próprias lutas. "Muitos se sentem encorajados pela personagem e também pela minha história pessoal – eu lidei com um tipo de transtorno bipolar durante quase vinte anos. Creio que os jovens são particularmente suscetíveis à depressão, em grande parte porque habitam o mundo das redes sociais, feitas sob medida para encorajar os usuários a se sentirem mal consigo mesmos (e gastarem muito tempo pensando e postando sobre si mesmos também)".

Com uma narrativa fortemente atrelada ao cinema, "A Mulher na Janela" também é um meio para levar aos leitores algum conhecimento sobre Alfred Hitchcock (diretor de "Psicose", "Os Pássaros" e "Janela Indiscreta") e filmes noirs dos anos 1940 e 1950, que influenciaram profundamente a própria formação do autor. "Eu amo cinema clássico e me sinto muito feliz quando leitores dizem que o livro os levou a procurar esses filmes". Ao comentar o tom de suspense que buscou imprimir em sua narrativa, Finn lembra de uma imagem cunhada pelo próprio Hitchcock: é como se "uma bomba estivesse passando por baixo de uma mesa".

Do trabalho como editor e crítico, o autor levou para seu livro muito do que aprendeu com relação às técnicas para se contar uma boa história, mas o que se mostrou mesmo útil na hora de escrever o romance foi sua longa "carreira" de leitor. Passando de Dickens e Arthur Conan Doyle a Kate Atkinson e Stephen King e se aprofundando em Agatha Christie, notou quais caminhos seguir, bem como certos equívocos a evitar. Para Finn, ler tanto quanto seja possível é algo fundamental. "A leitura areja o cérebro", argumenta.

"A Mulher na Janela" chegará ao cinema no final de 2019, quando o escritor completa 40 anos, numa adaptação feita para Century Fox que terá a atriz Amy Adams como protagonista e direção de Joe Wright. Depois disso, em 2020, Finn lançará seu novo romance, um thriller psicológico ambientado em São Francisco.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.