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O “futebol” mortal que os astecas jogavam antes da América ser invadida

Rodrigo Casarin

02/07/2018 07h23

Jogado em um campo com formato de T ou de I, com dois aros dispostos nas laterais da cancha e disputado normalmente por cinco jogadores de cada lado. O objetivo? Meter a bola no aro do adversário. Simples, não? Não, absolutamente. Feita de látex, a redonda podia pesar até 5 quilos e, para piorar, os atletas só podiam golpeá-la com os joelhos, o cotovelo ou parte do dorso, nada de utilizar pés ou mãos. Não havia tempo para a partida, que só terminava quando alguma equipe, enfim, conseguia fazer o gol consagrador – o que podia demorar algumas boas horas.

Esse é o Tlachtli, uma mistura de basquete com futebol praticada pelos povos que habitavam a Mesoamérica até que europeus chegassem à região. O esporte – também conhecido como Ullamaliztle ou, com alguma variação regional e nas regras, Pok ta Pok – fazia parte do cotidiano de gente como os astecas, famosa civilização mexicana.

O Tlachtli era um esporte tão violento que provavelmente até Mascherano ficaria com um pé atrás de praticá-lo nos dias de hoje. Os movimentos rente ao solo e o peso da bola obrigavam jogadores a usarem proteções, mas isso não impedia que eventualmente cabeças fossem fatalmente rachadas por pancadas da pelota. Além disso, encarado como um momento ritualístico, ao fim dos jogos era comum que o capitão da equipe derrotada – ou até mesmo toda a equipe derrotada – fosse sacrificado.

Descobertas de pesquisadores mostram que alguns campos onde o jogo era praticado possuíam arquibancadas que comportavam milhares de pessoas, o que dá indícios da popularidade do esporte. Aliás, aqui vale uma breve elucidação sobre a dimensão da civilização Asteca. Ao ouvir falar de povos que habitavam a América antes da chegada dos europeus, muita gente imagina pessoas que viviam mais ou menos como o Papa-Capim, mas isso é um erro crasso. Maria Ligia Prado e Gabriela Pellegrino indicam em "História da América Latina" (Contexto) que quando Cristóvão Colombo chegou ao continente, topou com uma terra com mais de 57 milhões de habitantes, sendo que mais de 21 milhões deles estavam ali pelo México.

Já em "Civilização – Uma Nova História do Mundo Ocidental" (Difel), Roger Osborne nos dá uma ideia do que os espanhóis se depararam quando chegaram a Tenochtitlán, a grande capital dos astecas. "A visão da cidade os assombrou. Construída no centro do lago Texcoco, com jardins flutuantes e um sem-número de casas, palácios, ruas e templos, um mercado frequentado por 70 mil pessoas e núcleos costeiros acessíveis por meio de caminhos elevados e pontes levadiças, a cidade parecia ter saído de um sonho. O que os espanhóis tinham diante de si não era uma terra vazia à disposição dos ocupantes, tampouco um povo primitivo, mas um império a ser conquistado".

Sim, é provável que, antes de iniciar a aniquilação dos astecas, os invasores tenham presenciado uma partidinha de Tlachtli.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.