Regina Duarte fundará o Departamento de Produção Cultural para Maiorias?
Até o Fernando, meu cachorro, sabe: no domingo foi ao ar uma entrevista que Regina Duarte, ex-atriz e atual secretária da Cultura do governo de Jair Bolsonaro, concedeu para o jornalista Ernesto Paglia, da Globo. Em determinado momento da conversa, ao ser questionada sobre movimentos conservadores que buscam coibir certas expressões artísticas, a política respondeu que o dinheiro público deveria ser utilizado supostamente de acordo com o que a população que elegeu o atual governo espera. Também afirmou que "todos estão livres para se expressar, contanto que busquem seus patrocínios na sociedade civil. Você não vai fazer filme para agradar a minoria com o dinheiro público".
Não faz sentido. Primeiro porque, como Paglia lembrou, um governo eleito deve governar para todos, não apenas para seus eleitores. E nesse "todo" está, obviamente, qualquer minoria que se possa imaginar. Segundo: uma das principais críticas contra leis de incentivo à cultura é que muitas vezes os recursos acabam nas mãos de artistas que não precisariam desse tipo financiamento. Este é mesmo um ponto que merece atenção e discussão. E é justamente o ponto que mostra que o Estado deve ajudar a fomentar as manifestações artísticas que ainda não encontram grande suporte financeiro na sociedade civil, não o contrário.
Só que fomentar a cultura, pelo visto, não é a preocupação de Regina. "No nosso caso, meu e da equipe, o que a gente quer é fazer cultura", disse ela em outro momento da entrevista. Então o Estado brasileiro deixará definitivamente de apoiar e incentivar produções culturais para que ele mesmo passe a produzir cultura? Nesse ponto da fala de Regina quase que consigo ver a sombra de seu antecessor, o tenebroso Roberto Alvim. Teremos filmes, livros, álbuns, peças e palhaços peidorreiros estatais? Podemos esperar algo como um Departamento de Produção Cultural para Maiorias lá em Brasília?
Talvez a política tenha usado a palavra "fazer" de modo equivocado, sei disso. Mas vai, então, usar o dinheiro público para fazer filme – ou peça, livro, show, exposição, seja lá o que for – para agradar a minoria? A princípio, representações artísticas não nascem para agradar ou desagradar alguém. Agora, por que essas ditas maiorias se sentem tão ofendidas quando veem pessoas que não são sua imagem e semelhança – ou não são a imagem daquilo que almejam para si – retratadas em obras de arte? É com esse ranço contra grupos politicamente minoritários que uma secretária da Cultura deveria se preocupar.
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