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Seguindo macaco, cientista descobre esconderijo de traficantes na Nicarágua

Rodrigo Casarin

08/05/2019 10h51

Lilia Illes, biogeógrafa nascida nos Estados Unidos e que atua na busca por soluções para que humanos e animais selvagens consigam coexistir, perambulava por uma floresta na ilha de Ometepe, na Nicarágua, quando avistou um bugio macho. Investigando como os habitats dessa espécie de macaco foram fragmentados por conta de atividades humanas, resolveu segui-lo. Mirando a copa das árvores, prestava mais atenção no que estava sobre sua cabeça do que à altura dos seus pés. Só quando o primata sossegou em uma figueira cheia de frutos que se deu conta de onde estava.

"Quando olhei para baixo, vi meia dúzia de rifles automáticos, um pequeno heliponto perfeito e uma doca para barcos. Eles estavam tão bem escondidos que não apareciam nas imagens de satélites. Então olhei em volta, vi alguns homens e percebi em que eu havia tropeçado. Quando eles se aproximaram, eu fingi ignorância e dei início à minha melhor atuação de turista confusa, sorrindo e apontando para o macaco. Pedi desculpas por incomodá-los e saí de lá na hora". Sim, pesquisando sobre bugios, Lilia caiu bem na toca de traficantes.

O causo é uma das 25 histórias presentes em "Desventuras na Ciência" (Blucher), livro ilustrado do desenhista francês Jim Jourdane. Divertida e com uma pegada infantojuvenil, a obra reúne lambanças e enrascadas vividas por cientistas em diversos cantos do mundo enquanto tentavam realizar seu trabalho. Lançado no Brasil no começo do ano, o volume saiu primeiro na França e nos Estados Unidos e nasceu a partir de testemunhos dados pelos pesquisadores no Twitter utilizando a hashtag #fieldworkfail. Coube ao autor entrevistar esses profissionais para lapidar as trapalhadas.

A colombiana Angela Bayona, por exemplo, estava em sua terra natal quando acabou perseguida por uma onça após urinar na mesma árvore em que o bichano costumava fazer xixi. Na Indonésia, a britânica Agata Staniewicz conseguiu a proeza de se colar ao crocodilo em que tentava fixar um radiotransmissor. Mari Parrott, australiana, estava na África do Sul quando macacos roubaram seu último papel higiênico. Já o norte-americano Jeff Stratford estava na Pensilvânia quando reuniu crianças para acompanhar a libertação de um pintassilgo – que, assim que levantou voo, foi capturado por um falcão, deixando todos os pequenos horrorizados.

Indo além das lambanças, cada capítulo também traz alguns ensinamentos sobre os animais e o trabalho dos cientistas. Após acompanhar Lilia se enrascando por conta de um macaco, por exemplo, o leitor aprende que "as vocalizações profundas do bugio são sua característica mais marcante. Podem ser ouvidas a 5 quilômetros de distância", isso graças à mandíbula profunda e à laringe aumentada, que forma uma "câmara de ressonância". Uma das lições da passagem de Mari Parrott, por sua vez, é primordial: se faltar papel higiênico no meio da floresta, procure por alguma espécie de acácia que possua folhas macias – são ótimas para, digamos, finalizar o serviço.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.