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Marc Ferrez, o fotógrafo que registrou a escravidão e o Brasil do Império

Rodrigo Casarin

26/03/2019 10h23

Escravos em terreiro de uma fazenda de café na região do Vale do Paraíba/ Vale do Paraíba, c. 1882/ Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Imagens de escravos sendo explorados, da expansão ferroviária pelo país e de cidades que ainda estavam muito longe de ser as grandes metrópoles de hoje estão entre as que mais chamam a atenção no acervo de Marc Ferrez, um dos principais fotógrafos a registrar o Brasil do século 19. Uma mostra reunindo mais de 300 itens deixados pelo carioca que nasceu em 1843 e morreu em 1923 estreia hoje no Instituto Moreira Salles de São Paulo e fica em cartaz até 21 de julho. São documentos, objetos diversos e, claro, fotos que nos ajudam a refletir inclusive sobre o país que temos hoje.

"A importância do trabalho de Ferrez reside no fato de ter documentado o Brasil do século 19, desde 1860, até o início do século 20, fazendo, portanto, a transição do Império para a República. Suas imagens registram visualmente um país em transformação, cheio de contradições, e permitem que pensemos nas contradições atuais da sociedade brasileira, sua desigualdade, todas as questões de gênero, raça…", diz Sergio Burgi, coordenador da área de Fotografia do IMS e curador de "Marc Ferrez: Território e Linguagem".

Panorama Parcial do Rio de Janeiro/ Rio de Janeiro, c. 1885/ Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Ferrez atuou como fotógrafo oficial na comissão geológica formada pelo Império em 1875 para realizar um levantamento do território nacional, oportunidade que permitiu que se transformasse na primeira pessoa a registrar em imagens diversas regiões do país. Também mirou suas lentes para o desenvolvimento da ciência e da engenharia no Brasil, além de seguir de perto diversos empresários da época. Fotografando as fazendas de café no vale do Paraíba, no interior de São Paulo, que mostra como os barões exploravam a mão de obra escrava de homens, mulheres e crianças.

Burgi ainda destaca que Ferrez nos ajuda a entender o crescimento da importância da imagem em nossa sociedade. "Sua trajetória acompanha as próprias transformações no campo da imagem, e talvez isso seja o mais relevante em relação aos dias de hoje. É naquele momento que se formam todas as condições para que a imagem passe a ter o papel que teve na sociedade ao longo do século 20 e mesmo agora no século 21. Esse fenômeno atual da imagem na cultura tem suas raízes exatamente no período da carreira do Ferrez".

Além da mostra, o IMS também está lançando o livro "Marc Ferrez. Uma Cronologia da Vida e da Obra", de Ileana Pradila Ceron, responsável pelo Núcleo de Pesquisa em Fotografia do instituto.

Veja fotos que, como as duas acima, foram feitas por Marc Ferrez (clique nas imagens para ampliá-las):

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Charles F. Hartt, com a cidade do Recife ao fundo, durante levantamento da Comissão Geológica do Império/ Recife – PE, 1875/ Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Arsenal da Marinha/ Recife, PE, c. 1875/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Carro de bois/ Minas Gerais, c. 1885/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Negra da Bahia e índia Botocudo/ Bahia, c. 1876/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Partida para colheita do café/ Vale do Paraíba, c. 1885/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Na estrada de ferro de Santos a São Paulo/ São Paulo, c. 1880/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Obras de abastecimento de água/ Rio de Janeiro, c. 1880/ Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Obras do abastecimento de água do reservatório D. Pedro II/ Rio de Janeiro, 1879/ Coleção Jennings Hoffenberg / Acervo Instituto Moreira Salles.

Ilha de Paquetá/ Rio de Janeiro, c. 1885/ Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Escola Militar na Praia Vermelha/ Rio de Janeiro, c. 1880/ Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Largo São Bento/ São Paulo, c. 1892/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Palácio do Governo/ São Paulo, c. 1892/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Autorretrato de Marc Ferrez com cerca de 36 anos de idade, c. 1879/ Rio de Janeiro/
Coleção Gilberto Ferrez/ Acervo Instituto Moreira Salles.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.