Topo

“Ninguém criou o universo”: Stephen Hawking explica por que Deus não existe

Rodrigo Casarin

27/11/2018 11h02

Existe vida inteligente fora da Terra? É possível prever o futuro? E fazer uma viagem no tempo? Sobreviveremos no nosso planeta? Deveríamos tentar colonizar outros cantos do universo? A inteligência artificial vai nos superar? Deus existe?

Respostas para essas perguntas nada fáceis que Stephen Hawking nos oferece em "Breves Respostas Para Grandes Questões", livro póstumo que acaba de chegar às livrarias pela Intrínseca. Hawking, que morreu no último mês de março aos 76 anos, foi um dos pesquisadores mais respeitados e conhecidos de nossa história recente. Dominando a matemática, a física e a cosmologia, preocupou-se em não deixar seu conhecimento limitado à academia e atingiu o grande público ao lançar obras como "Uma Breve História do Tempo" e "O Universo Numa Casca de Noz".

"A maioria das pessoas acredita que ciência de verdade é difícil e complicada demais. Não concordo com isso. Pesquisar sobre as leis fundamentais que governam o universo exigiria uma disponibilidade de tempo que a maioria não tem; o mundo acabaria parando se todos tentassem estudar física teórica. Mas a maioria pode compreender e apreciar as ideias básicas, se forem apresentadas de maneira clara e sem equações, algo que acredito ser possível e que sempre gostei de fazer", escreve o cientista.

Hawking segue essa linha de divulgação científica para leigos em "Breves Respostas Para Grandes Questões", que reúne um material descoberto em seus arquivos logo após sua morte. Quem tem o livro em mãos só não deve achar, no entanto, que as respostas breves do autor se limitem a poucos parágrafos – estamos diante de temas que rendem pesquisas profundas, que muitas vezes chegam a conclusões ou possibilidades diferentes, vale lembrar.

Para falar a respeito da existência ou não de algum deus, por exemplo, ao longo de 12 páginas o cientista passa por questões de linguagem, pelas leis da natureza, equações científicas básicas e dá uma aula sobre energia negativa que eu não me meterei a reproduzir, tudo para embasar o parecer. Passa ainda pela história, lembrando que a ciência explicou quase todos os fenômenos anteriormente atribuídos a divindades, restando apenas o momento da criação do universo como um cantinho onde algum deus ainda poderia estar escondido.

"As leis da natureza nos dizem que não só o universo pode ter surgido sem ajuda, como um próton, e não ter exigido nada em termos de energia, como também é possível que nada tenha causado o Big Bang. Nada. […] À medida que viajamos de volta no tempo em direção ao momento do Big Bang, o universo fica cada vez menor e continua diminuindo até finalmente chegar a um ponto em que se torna um espaço tão ínfimo que na verdade se trata de um único buraco negro infinitesimalmente pequeno e denso. E, assim como acontece com os buracos negros que hoje flutuam pelo espaço, as leis da natureza ditam algo verdadeiramente extraordinário. Elas nos dizem que aí também o próprio tempo tem que parar. Não podemos voltar a um tempo anterior ao Big Bang porque não havia tempo antes do Big Bang. Finalmente encontramos algo que não possui uma causa, porque não havia tempo para permitir a existência de uma. Para mim, isso significa que não existe a possibilidade de um criador, porque ainda não existia o tempo para que nele houvesse um criador", escreve Hawking, que depois deixa sua posição ainda mais clara:

"Quando me perguntam se um deus criou o universo, digo que a pergunta em si não faz sentido. O tempo não existia antes do Big Bang, assim não existe tempo no qual deus produziu o universo. É como perguntar onde fica a borda da Terra. A Terra é uma esfera e não tem borda; procurá-la é um exercício fútil. […] Se eu tenho fé? Cada um é livre para acreditar no que quiser. Na minha opinião, a explicação mais simples é que deus não existe. Ninguém criou o universo e ninguém governa nosso destino. Isso me levou a perceber uma implicação profunda: provavelmente não há céu nem um além-túmulo. Acho que acreditar em vida após a morte não passa de ilusão. Não existe evidência confiável disso e a ideia vai contra tudo que sabemos em ciência. Acho que, quando morremos, voltamos ao pó. Mas, em certo sentido, continuamos a viver: na influência que deixamos, nos genes que passamos adiante para nossos filhos. Temos apenas esta vida para apreciar o grande plano do universo, e sou extremamente grato por isso".

Dentre os muitos momentos interessantes do livro, também merece destaque a resposta que Hawking dá para a pergunta "Qual é a maior ameaça ao futuro do planeta?". Para ele, a mudança climática descontrolada deveria ser nossa principal preocupação para que o mundo não vire um forno. "Uma elevação na temperatura do oceano derreteria as calotas polares e causaria a liberação de grandes quantidades de dióxido de carbono. Ambos os efeitos poderiam deixar nosso clima como o de Vênus, mas com uma temperatura de 250ºC". Fica mais esse alerta para quem acha que aquecimento global é uma mentira – ou que é mera vontade de deus.

Gostou? Você pode me acompanhar também pelo Twitter e pelo Facebook.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.