Ele prometia curar a impotência implantando testículos de bode nos homens
John Romulus Brinkley era um charlatão. Praticando a medicina de maneira pouco ortodoxa, para dizer o mínimo, atingiu um status de milagreiro perante muitos norte-americanos. Prometendo curar uma infinidade de doenças, vendia água tingida como sendo um poderoso remédio. Se homens lhe procuravam se queixando de disfunção erétil, Brinkley lhes abria o corpo e inseria pedaços de testículos de bode próximo ao pênis – sim, segundo o doutor, os bagos do animal trariam de volta a virilidade perdida. E não era só isso. O médico parecia dar jeito em qualquer um que lhe aparecesse com algum problema, apesar de ser tratado como um impostor pela Associação Médica dos Estados Unidos.
Muitos pacientes morriam nas mãos do médico, contudo. Em 1930, quando os óbitos diretos provocados pelas suas maluquices já passavam de quatro dezenas, as autoridades do Kansas começaram a se preocupar com as atividades de Brinkley, que, dentre outras coisas, era acusado de realizar cirurgias bêbado. Banido, o charlatão rumou para o México. Perto da fronteira com os Estados Unidos, investiu pesado em uma rádio para divulgar o seu "milagroso" trabalho e chamar seus conterrâneos para cruzar a fronteira e se submeter às operações que estava proibido de realizar na sua terra natal. Deu certo. Brinkley, ao menos por um tempo, ganhou muito dinheiro. Até que as coisas começaram a azedar para o seu lado.
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"Primeiro outro médico se instalou na região oferecendo tratamentos igualmente bizarros, mas por preços mais baixos. Aí o FBI o condenou por fraude postal. Ex-pacientes lhe meteram processos. O governo mexicano enviou tropas do Exército para fechar seus negócios. Seus ouvintes mudaram de estação quando ele começou a dar espaço a simpatizantes do nazismo durante a Segunda Guerra. E ele teve que vender a mansão [que havia construído]. Logo depois de ter mandado colocarem azulejos com suásticas na piscina". Isso antes de sofrer três infartos, ter que amputar uma perna que apresentava problemas de circulação e, enfim, morrer em 1942, vitimado por mais um ataque cardíaco.
Essa é uma das histórias extraordinárias contadas por Nate DiMeo no podcast "O Palácio da Memória", programa no qual resgata passagens e personagens bastante interessantes que muitas vezes acabam esquecidos com o passar do tempo. O tradutor Caetano Galindo se apaixonou pelo programa quando o ouviu e pediu licença a DiMeo para que vertesse as narrativas para o português e as transformasse em um livro. Assim que nasceu a versão impressa de "O Palácio da Memória", publicada pela Todavia, que reúne 50 preciosidades pinçadas do passado pelo jornalista norte-americano.
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"O Palácio da Memória" é precioso tanto pelas passagens que traz quanto pelo estilo de DiMeo, narrador com exímio domínio de ritmo e olhar extremamente atento para captar detalhes de histórias como a de Ellen Craft, mulher branca que precisou fingir ser um homem acompanhado de seu escravo para que, no século 19, pudesse cruzar os Estados Unidos com William, o seu marido, um negro. Ou de Samuel Finley Breese Morse, pintor que, traumatizado por não conseguir se despedir de sua mulher, morta no parto de seu terceiro filho enquanto ele viajava a trabalho, inventou o telégrafo e o código Morse para que as pessoas pudessem se comunicar a distância numa velocidade infinitamente maior do que a permitida pela troca de cartas.
Impressiona também como DiMeo consegue revelar muito da essência do ser humano em textos breves, que não costumam ocupar mais do que cinco páginas. Ágil e profundo, "O Palácio da Memória" é um livro imperdível para quem gosta de histórias boas e bem contadas.
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