Armas, bombas e chocolates: por que soldados levavam o doce para a guerra?
Quando desembarcaram na Normandia, no norte de uma França ocupada por alemães, em 6 de junho de 1944, soldados das tropas aliadas carregavam consigo bombas, carabinas, fuzis, muita munição e um pequeno pacote de chocolate. Sim, isso mesmo, um pouco de chocolate também fazia parte do que levavam para o campo de batalha. Mas por que os militares portavam o doce no que ficou conhecido como "O Dia D"?
"Na maioria dos casos, era a única comida com que viveriam por dias", escreve Joana Monteleone em "Toda Comida Tem Uma História". "O chocolate foi à guerra pensado como um suprimento barato e de alta energia para os soldados. Mas, ele representava muito mais do que isso. Industrializado desde o final do século 19, o chocolate possuía – e ainda possui – uma história que o associava ao prazer, à dolce vita, à alegria da infância. Por isso, quando soldados como Carl Edward Bombardier, da Companhia F do segundo batalhão, abriam sua barra de chocolate para comer, eles podiam esquecer das mortes", explica.
Joana é historiadora, antropóloga, autora de "Sabores Urbanos: Alimentação, Sociabilidade e Consumo (São Paulo, 1828 – 1910)" e teve durante algum tempo uma coluna mensal na revista "História Viva", de onde retirou os quase 30 ensaios que compõem "Toda Comida Tem Uma História", publicado pela Oficina. Nos textos leves e breves que a autora define como "pequenas anotações e curiosidades", o leitor encontra crônicas de como a alimentação se tornou um elemento-chave de nossa cultura.
Veja três outras histórias presentes no livro:
Asterix, Obelix e a guerra gastronômica: a comida é um importante detalhe nas histórias de Asterix e Obelix, dupla de gauleses que ajuda a proteger sua aldeia, um bastião de resistência contra a invasão dos romanos à Gália. Em "Toda Comida Tem Uma História", Joana analisa os banquetes da famosa HQ criada por Albert Uderzo e René Goscinny, oferecendo uma perspectiva de luta entre as culinárias da França e da Itália. "Os romanos seriam brutos sem gosto, sempre enfiados em orgias com pratos estranhos, como ursos com mel, tripas de javali fritas na banha de boi, pescoços recheados de girafas. Já os gauleses seriam os bravos propagadores de um refinamento gastronômico sem precedentes (ainda que um tanto monótono com insistência nos javalis)".
Da Vinci, o cozinheiro: homem que pintou a "Monalisa" e a "A Última Ceia", arquiteto respeitado, inventor que projetou algo bastante parecido com o helicóptero que temos hoje… São muitos os fatos que embasam quem defende que Leonardo Da Vinci tenha sido um dos maiores gênios da humanidade. O que poucos sabem é que o primeiro trabalho do italiano foi como ajudante de cozinha, onde também empregou sua inventividade. "Sua habilidade em criar mecanismos para o entretenimento da corte lhe rendeu uma posição vantajosa: a de mestre de banquetes. Ele não apenas coordenava os eventos festivos dentro da cozinha, mas também inventava máquinas para ajudar no trabalho dos cozinheiros", registra a autora.
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Sobremesa com queijo Minas: quando chegou ao Brasil em 1816 para ser o pintor da família real, o francês Jean-Baptiste Debret foi um dos primeiros estrangeiros a registrar um hábito então caro aos brasileiros: comer queijo Minas ao final das refeições, como sobremesa. "Europeus, e principalmente franceses, estranhavam o fato do queijo Minas ser servido acompanhando doces, geleias ou compostas de frutas, como jabuticaba ou abóbora", registra Joana – da minha parte, prefiro o queijo com doce de leite.
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