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Nada de heróis! Adaptação de HQ brasileira às telonas é cheia de gente real

Rodrigo Casarin

17/05/2018 10h30

Transmitir para a telona toda a complexidade dos personagens do quadrinista Marcelo Quintanilha. É esse o principal mérito da adaptação de "Tungstênio", que estreará nos cinemas brasileiros no dia 21 de junho. Uma das qualidades da HQ é justamente mostrar que o mundo não se divide entre heróis – ou super-heróis, como muita gente gosta de ver em transposições do tipo – e mocinhos.

Ali estão os "pescadores" que detonam bombas na água para facilitar o serviço e recolher os peixes já mortos, boiando, o policial justiceiro, o pequeno traficante, o aposentado do exército que parece uma encarnação do tal "homem de bem" – aquele que quer resolver quase tudo na porrada, não se importando muito com as leis ou a Constituição para alcançar sua vontade -, a mulher que não consegue fazer com que a razão seja mais forte do que o coração… São pessoas com nuances múltiplas na personalidade e que em muitos momentos se portam muito mais como vilões do que como tipos edificantes, ainda que tenham seus momentos de salvadores da pátria. São personagens que representam muito bem as pessoas de verdade, não idealizações simplórias do bem ou do mal.

Lançada em 2014, "Tungstênio" foi recebida como uma das melhores HQs já feitas por um brasileiro, status reforçado após se tornar, em 2016, vencedora do Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, um dos mais importantes do mundo – escrevi sobre a obra aqui. A adaptação, assinada pelo próprio Quintanilha em parceria com Marçal Aquino e Fernando Bonassi e dirigida por Heitor Dhalia, é extremamente fiel à HQ inclusive na reconstrução de diálogos e cenas. Eis duas amostras:

Na narrativa vivida em Salvador e protagonizada no cinema por nomes como Fabrício Boliveira, Samira Carvalho, Zé Dumon e Wesley Guimarães, os personagens encaram uma trama marcada pela violência e pelas escolhas quase sempre pautadas por instintos supostamente nobres – ou nobres pela perspectiva de cada um deles. A adaptação ainda conta com narração de Milhelm Cortaz, recurso que poderia ter sido usado com mais parcimônia; acabou ficando um tanto pesado em alguns momentos.

Livro novo

Autor de outras respeitadas HQs, como "Talco de Vidro" e "Hinário Nacional", Quintanilha também está para lançar pela Veneta a coletânea "Todos os Santos", que reúne quadrinhos e desenhos distintos feitos ao longo de sua carreira, alguns deles inéditos no Brasil. Dentre os destaques do apanhadão estão os primeiros trabalhos do autor, publicados em revistas de terror e artes marciais dos anos 1980, e "Acomodados! Acomodados!", vencedor do prêmio da 1ª Bienal Internacional de Quadrinhos do Rio de Janeiro de 1991.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.