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Marcello Quintanilha diz que prêmio no Festival de Angoulême é “magnífico”

Rodrigo Casarin

02/02/2016 10h20

Quintanilha

"É complicado dizer qual é o maior prêmio de quadrinhos do mundo, mas um prêmio em Angoulême movimenta o mercado franco-belga provavelmente mais que um prêmio Eisner nos EUA. Para os leitores da Europa, é um selinho importante a se colar na capa". Dessa forma que Érico Assis, jornalista especializado em HQs, analisou, em sua página do Facebook, o prêmio conquistado pelo quadrinista brasileiro Marcello Quintanilha no último sábado, dia 30, quando o seu "Tungstênio" foi eleito o melhor livro na categoria Policial da 43ª Edição do Festival de Angoulême.

Se boa parte da imprensa nacional comparou Angoulême ao Oscar – sou um desses, inclusive –, o paralelo que Quintanilha faz é outro. "Na opinião das pessoas envolvidas, Angoulême se assemelha ao festival de cinema de Cannes, o que pode dar uma dimensão da proposta do prêmio. É magnífico receber um prêmio como esse", diz sobre a conquista.

tungstenioHá 14 anos vivendo em Barcelona, na Espanha, Quintanilha está com 44 anos e há algum tempo é apontado como um dos principais quadrinistas nacionais. "Tungstênio", obra que acompanha parte dos dramas cotidianos de quatro personagens na Bahia – veja aqui a resenha -, foi lançado no Brasil em 2014 pela Veneta e chegou na França, por meio da editora Çà et Là, no ano passado. Com a conquista, o artista se torna o primeiro brasileiro agraciado pelo importante festival francês.

Uma das principais marcas do trabalho de Quintanilha é o retrato que faz da realidade do brasileiro médio, que, segundo ele, serve de base para que explore as questões do ser humano. "Sua singularidade responde pela sua própria universalidade, no sentido de que não vejo a representação da média da população brasileira como um objetivo em si, mas sim a exploração da mentalidade do ser humano como um todo, o que transcende qualquer atributo de nacionalidade", explica ao falar o que há de universal nesse nosso dia a dia. "Propostas diferentes do estrito contexto europeu sempre circularam no mercado com certa regularidade", completa, comentando a boa recepção de sua obra na Europa.

O mais recente trabalho publicado de Quintanilha é "Talco de Vidro", que saiu no país pela Veneta no ano passado – veja aqui o papo que bati com ele na ocasião. Quando perguntado se o livro também poderia lhe render um prêmio como o de Angoulême, o quadrinista se mostrou satisfeito com a repercussão positiva que ele já teve até aqui. "'Talco de Vidro' foi incrivelmente bem recebido no Brasil e isso, em si, e uma imensa conquista pessoal, sob meu ponto de vista".

Por fim, sobre a polêmica que marcou esta edição de Angoulême – o evento inicialmente anunciou uma lista de 30 finalistas ao prêmio principal, sendo que nenhum deles era mulher, o que levou a artistas como Riad Sattouf e Milo Manara a pedirem para que suas indicações fossem retiradas –, Quintanilha diz ser importante que esse tipo de debate venha à tona. "Acompanhei com certa distância, já que se tratava de outra categoria. A discussão envolvendo o tema da representatividade está presente na sociedade e considero magnífico que finalmente possamos contestar normas historicamente estabelecidas".

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.