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É válido rachar um livro em duas ou mais partes para facilitar e leitura?

Rodrigo Casarin

24/01/2020 10h10

Na terça-feira, o escritor britânico Alex Christofi compartilhou uma foto que chocou muita gente. Em seu Twitter, postou a imagem de três livros divididos ao meio: "Dostoiévski", biografia do grande autor russo escrita por Joseph Frank, e os romances "Graça Infinita", de David Foster Wallace, e "Middlesex", de Jefrrey Eugenides. Também escreveu: "Ontem meu colega me chamou de 'assassino de livros' porque eu divido longos livros para ficar mais fácil de carregá-los. Mais alguém faz isso? Sou apenas eu?".

Não sei se é apenas o escritor que gosta de fragmentar tijolos, mas a reação dos tuiteiros não foi nada boa (pra variar). Entre o humor e o deboche, muitos concordaram com o tal colega: Alex é mesmo um assassino de livos, um monstro, alguém que mereceria ser denunciado ao FBI para, quem sabe, pagar por tudo o que fez. Com certo exagero, houve quem com o comparasse a nazistas queimando obras.

Houve também quem escrachasse de vez. Esta pessoa, por exemplo, parodiou Alex, dizendo que gosta de colocar tacos nas páginas dos livros. "Mais alguém faz isso? Sou apenas eu?":

Já a Simon & Schuster, uma das principais editoras de língua inglesa, propôs uma solução: "Alguém poderia arrumar um e-book ou um audiobook para esse cara?":

Da minha parte, até leio livros digitais, mas prefiro os impressos. Mesmo quando viajo, levo o Kindle, mas também um ou dois livros físicos que acabam tendo preferência na hora da leitura.

Voltando ao tema do post, o que vocês pensam? É válido dividir um livro em duas ou mais partes para facilitar o transporte e a leitura?

Uma leitora fez uma pergunta bastante pertinente a Alex, o "assassino de livros": como ficaram as muitas notas de "Graça Infinita", que são parte indissociável da história? Pela resposta do escritor, dá para notar que a edição que ele dividiu segue o mesmo padrão da edição brasileira publicada pela Companhia das Letras, que reúne essas notas no final do volume. Alex explicou que só se tocou de que precisaria das notas ao longo de toda a leitura depois que rachou o calhamaço. Então, dividiu novamente o tijolo, separando as páginas com as notas. De certa forma, acabou segmentando "Graça Infinita" em três volumes: dois com o texto principal e um livreto (que nem deve ser tão pequeno assim) com o conteúdo "extra".

Vi muitos brasileiros comentando o post de Alex e também torcendo o nariz para os livros divididos. Eu gostei da solução. E nem é porque "ele comprou, o livro é dele e ele faz o que quiser", argumento tão óbvio quanto tosco que alguns utilizaram, mas precisamos mesmo dessacralizar o objeto livro e focar no que realmente interessa: o que esse livro carrega em si.

O valor de um David Foster Wallace – ou de um Dostoiévski, de um Machado, de uma Clarice, de qualquer autor – está em seu texto, não na plataforma em que o texto está inserido. É melhor ler partes decepadas de um Cervantes do que não ler Cervantes porque não é fácil transportar "Dom Quixote".

É óbvio que não incentivo que rachem volumes raros, que possuem valor histórico, ou edições de luxo, pensadas para que também possuam valor enquanto objeto. Fora isso, o que vale é o texto e a leitura, e que cada um encontre a melhor maneira para não deixar de ler.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.