Terraplanismo, antivacinas… livro mostra como pessoas se tornaram "idiotas"
Rodrigo Casarin
24/10/2019 10h17
Vacinas são seguras. Globalismo não existe. Não há sociedade livre de drogas. O método científico é uma conquista a ser celebrada. A humanidade não pode queimar petróleo indefinidamente. Não há razão para duvidar das mudanças climáticas. A escravidão existiu e suas consequências são sentidas no presente. A Terra não é plana, e mais: ela gira em torno do Sol.
Esses são os títulos de alguns dos 24 capítulos de "Tudo o que Você Precisou Desaprender Para Virar um Idiota", que chega às livrarias no começo de novembro pela Planeta. Todas as afirmações acima pareciam óbvias até outro dia. Em época de estupidez galopante, porém, muita gente passou a acreditar em lorotas como o terraplanismo, apenas para ficarmos na que talvez seja a mais bizarra delas.
Escrito pelo jornalista Álvaro Borba e pela professora acadêmica Ana Lesnovski, a dupla responsável pelo canal Meteoro Brasil, que conta com mais de 600 mil inscritos no Youtube, "Tudo o que Você Precisou Desaprender Para Virar um Idiota" encampa uma tarefa necessária: mostrar como multidões passaram a acreditar e a propagar ideias capengas e teorias conspiratórias (o capítulo sobre direitos humanos, outro assunto trogloditado, pode ser lido aqui). Desde o título, a obra faz clara referência e se contrapõe a um dos livros mais famosos de uma das mentes mais veneradas por aqueles que creem no globalismo ou desacreditam na ciência: "O Mínimo que Você Precisa Saber Para Não Ser um Idiota", de Olavo de Carvalho (Record).
Borba e Ana se apoiam em estudos do cientista político Michael Barkun para apresentar como as teorias conspiratórias são divididas e mostrar de que maneira a chamada "super teoria conspiratória" anda definindo os rumos da política em certos cantos do mundo:
"Aconteceu nos Estados Unidos, no Brasil e em uma porção de outros lugares: o poder político foi entregue a homens que dizem coisas até então inadmissíveis. Nos Estados Unidos, o candidato a presidente diz que uma minoria étnica é formada por estupradores. No Brasil, seu equivalente tropical recomenda dar umas porradas no filho que estiver ficando 'assim, meio gayzinho'. No fim, ambos vencem suas respectivas corridas eleitorais, não apesar de declarações como essas, mas, como veremos aqui, em função delas", escrevem no prefácio, no qual ainda lembram que tais discursos polarizadores passaram a ser vistos como um artifício político. Um dos pilares do livro, aliás, é a distinção entre o idiota clássico – aquele que na Grécia Antiga era avesso à política – e o idiota contemporâneo, que leva sua estupidez para o centro de importantes debates.
Já na conclusão, a dupla afirma não restar dúvidas de que o uso radical da mentira como ferramenta daqueles que visam – e alcançam – o poder é um dos problemas de nosso momento histórico, bem como a tendência das pessoas se isolarem em bolhas em suas redes sociais, onde ficam distantes de divergências. "Separadamente, cada um desses dois problemas poderia ser vencido com facilidade, mas juntos eles são imbatíveis: primeiro, o idiota é capturado pela mentira e depois é aprisionado com ela dentro da bolha. Como a bolha é uma prisão confortável, o idiota não reclama. Pelo contrário: percebendo que suas convicções (ainda que embasadas naquela mentira inicial) são reforçadas, ele as radicaliza. Isso eleva a mentira a um novo patamar: o idiota cria para si uma ficção que inevitavelmente vai afetar a realidade – a dele e a dos outros".
Lançamentos
Há três lançamentos de "Tudo o que Você Precisou Desaprender Para Virar um Idiota" já agendados, todos em novembro, com início às 19h: dia 7, na Livraria da Vila (Unidade Fradique), em São Paulo, dia 11, na Livraria Travessa de Botafogo, no Rio, e dia 26, na Livrarias Curitiba do Shopping Palladium, em Curitiba.
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Sobre o autor
Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.
Sobre o blog
O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.