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Ziraldo e Mauricio juntos arrancam aquele sorriso bobo de qualquer marmanjo

Rodrigo Casarin

04/08/2018 16h25

Passo longe de ser uma pessoa melosa, mas bateu aquela emoção quando coloquei as mãos no livro ilustrado que Ziraldo e Mauricio de Sousa acabam de lançar. Por uma feliz coincidência, ao abrir a obra numa página aleatória, me deparei de cara com a Mônica sorrindo para mim e o Maluquinho me apontando o dedo como se dissesse "olha quem apareceu, estávamos com saudades". Arrancaram de mim aquele sorriso meio besta que mistura contentamento e nostalgia. Ver os dois personagens juntos me despertaram alguns dos mais ternos sentimentos. Também estava com saudades de vocês, amigos.

Agora, na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, acabo de assistir ao encontro dos dois na Arena Cultural. Foi ótimo vê-los juntos no palco, acompanhados atentamente por uma multidão formada por crianças, jovens, adultos, idosos… praticamente todos com um olhar que evidenciava a admiração pelos artistas. Enquanto Ziraldo maravilhosamente divagava e lembrava até dos "orgasmos" que teve ao conhecer o atual estúdio do colega, Mauricio, como é de seu feitio, dava um rumo mais centrado à conversa que durou pouco, mas foi de grande simbolismo.

Ziraldo e Mauricio são centrais na minha vida. Os quadrinhos deste me acompanharam durante toda a infância e foram fundamentais para que eu me tornasse leitor – é uma história comum a milhões de pessoas, eu sei. Já de Ziraldo vem a lembrança do primeiro livro que me marcou profundamente: "O Menino Maluquinho", lido e relido (e relido, relido, relido, relido…) lá pelos meus sete, oito, nove anos. Também jamais cansei de ver e rever o filme dirigido por Helvécio Ratton – adorava a cena do Maluquinho como goleiro.

Agora as turmas se juntam em "MMMMM – Mônica e Menino Maluquinho na Montanha Mágica" (Melhoramentos/ Mauricio de Sousa Editora), livro escrito por Manuel Filho – que também participou da conversa na Bienal – e ilustrado pelos dois gigantes dos nossos quadrinhos. Se a "A Montanha Mágica" de Thomas Mann está na origem e no nome da história, não espere, contudo, um encontro entre Bocão e Cebolinha com Hans Castorp ou algo do tipo. A narrativa se passa com os personagens vivendo uma aventura em um monte repleto de mistérios e certa magia.

Como prometido, o leitor encontra uma história que faz uma grande homenagem à amizade. O sorriso bobo voltou ao meu rosto quando vi Mônica defendendo Cebolinha, Cascão e Magali – "A gente já viveu muitas aventuras! Nem sei quantas vencemos juntos o Capitão Feio…" – e ao ler a dentucinha privilegiando seus amigos reais, esnobando as ideias de Denise, que queria promover uma campanha virtual para escolher quem Mônica levaria consigo à montanha:

"- Mas isso aqui é o fim da sua carreira social! – reclamou Denise ao ler o texto. – Vai ficar com pouquíssimos seguidores…

– Eu sempre soube quem são meus amigos de verdade. Então, quem não for, não vai comigo, oras".

O livro ainda presta homenagem a outras grandes obras da literatura, como "Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carrol, e "A Fantástica Fábrica de Chocolates", de Roald Dahl, e enaltece o próprio objeto livro, com Manuel Filho fazendo oportunas brincadeiras sobre a dinâmica da leitura ao longo do texto.

Por fim, temos também uma reverência à imaginação. E quem há de negar que uma imaginação poderosa seja talvez a maior virtude tanto de Ziraldo quanto de Mauricio de Sousa? Até outro dia apenas em nossa imaginação conseguiríamos vislumbrar Mônica e Maluquinho vivendo juntos, mas hoje isso é uma feliz realidade. "Mônica e Menino Maluquinho na Montanha Mágica" é daqueles raros livros que já nascem com cara de eternos. Mauricio e Ziraldo juntos é um dos grandes encontros da história deste país.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.