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Felipe Franco Munhoz: a obra de Philip Roth é uma espécie de Comédia Humana

Rodrigo Casarin

25/05/2018 10h39

Philip e Felipe. Foto: Eliane Lucina

A convite da Philip Roth Society, Felipe Franco Munhoz viajou para Newark, cidade colada a Nova York, para participar das celebrações dos 80 anos de Philip Roth, comemorados em 2013. Na ocasião, o jovem autor brasileiro (nasceu em 1990) leu trechos de um romance no qual estava trabalhando e seria lançado em 2016 pela Nós. Em "Mentiras", um rapaz chamado Felipe tem diversos encontros com um Philip, personagem que emula Roth e faz as vezes de tutor do aspirante a escritor.

Com um novo romance saindo do forno – "Identidades", definido como uma espécie de "Fausto", clássico de Goethe, do século 21 -, Felipe respondeu a algumas perguntas sobre a relação com Roth e como foi o encontro com o admirado autor que faleceu nesta semana.

Qual foi o seu sentimento quando soube da morte de Philip Roth?

Recebi um WhatsApp do jornalista Claudio Leal às duas da manhã – e passei o resto da madrugada lendo os obituários, à medida que foram sendo publicados pelo mundo. Não fiquei exatamente surpreso, pela idade e pela saúde de Roth; mas era impossível que a notícia não me provocasse um sentimento melancólico. Estive imerso, afinal, durante anos em sua obra. E pensando além desta relação particular, mesmo que o autor já tivesse deixado de ser um artista produtivo (que não esperássemos novos livros), em janeiro, por exemplo, Roth comentou o governo Trump em entrevista para o New York Times; ou seja: era uma voz importante que ainda podia ressoar.

Roth tinha a fama de ser um tanto recluso. Como aconteceu seu encontro com ele? Como chegou até o escritor?

Fui convidado pela The Philip Roth Society, organização estadunidense que sabia das minhas pesquisas, para participar das comemorações em torno dos oitenta anos do escritor. Além da mesa tradicional, durante o evento, em que li trechos do "Mentiras", houve uma apresentação do próprio Roth (em que ele leu um texto específico para a ocasião e um trecho de "O Teatro de Sabbath") e, na sequência, houve uma festa no Newark Museum, com parabéns, brinde e bolo em formato de livros. Nesse contexto, fomos apresentados pela acadêmica Aimee Pozorski; na época, ela presidia a The Philip Roth Society.

E como foi o momento em que estiveram juntos? Conversaram sobre o quê? O que recorda com maior carinho?

Conversamos durante quinze ou vinte minutos – principalmente sobre o "Mentiras". Eu expliquei a ideia, o conceito; e entreguei para ele os trechos que foram lidos no evento – traduzidos por mim (com auxílio de Eloise Mara Grein, professora da UFPR) para o inglês. E Roth, conhecido por ser avesso a qualquer intertextualidade em relação a sua obra, foi muito receptivo ao meu trabalho.

Vocês já tinham algum contato antes ou mantiveram algum contato depois?

Não. Fico triste pelo "Mentiras" não ter sido publicado em inglês enquanto ele estava vivo; eu adoraria que ele tivesse lido – no romance completo – a versão ficcional que elaborei, condensada no personagem Philip, não do homem, mas a partir de todas as suas vozes narrativas.

De que forma surgiu a sua admiração por Roth? Considera, hoje, que essa admiração fica mais no campo intelectual ou ela se transformou também em algo afetivo, pessoal?

Surgiu após uma leitura de "Deception", que, no Brasil, foi publicado com o título, "Mentiras"; cresceu durante o processo de pesquisa. "Deception", todo em diálogos, correspondia às propostas estéticas que eu procurava naquele momento. Olhando páginas atrás, tenho certeza de que, aos dezenove anos, consegui escolher o melhor mentor intelectual possível para o meu personagem Felipe.

Olhando para a obra que Roth nos deixou, o que você mais admira?

Admiro a obra em si – coerente, entrelaçada. É uma espécie de Comédia Humana, de Balzac; a Newark de Roth é tão poderosa quanto a Yoknapatawpha de Faulkner. Um único livro? "O Teatro de Sabbath".

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.