Romanov: a família que ocupou o trono russo por 300 anos antes da Revolução
Rodrigo Casarin
07/11/2017 10h19
Desde 1613, quando Mikhail Romanov foi coroado czar, que os Romanov governavam a Rússia. A dinastia que durou mais de 300 anos só acabou em 1917, após comunistas liderados por Lenin chegarem ao poder do país. Quem abdicou na ocasião era Nicolau Romanov, o Nicolau II, que entraria para a história como o último dos czares. Na noite de 16 para 17 de julho de 1918, enquanto a nação estava imersa em um caos civil, sovietes, camponeses e o Exército Vermelho decidiram executar Nicolau II, que desde sua queda viveu preso em uma de suas propriedades. Quando foi fuzilado pelos revolucionários, estava acompanhado da esposa e dos cinco filhos, todos também mortos.
Mortos segundo a versão corrente na Rússia soviética, ao menos. Desde então, o que aconteceu em Ecaterimburgo, cidade abraçada pelos montes Urais, onde a matança teria ocorrido, alimenta teorias da conspiração e debates sobre a veracidade histórica da narrativa apoiada pelos comunistas. Há quem acredite que uma das filhas de Nicolau teria sobrevivido, mas perdido a memória. Há também quem defenda que a mulher do czar e suas quatro filhas teriam sido salvas por conta de um acordo entre bolcheviques e alemães – em troca da vida, elas deveriam se calar eternamente.
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Dentre os defensores dessa última tese está o historiador francês Marc Ferro, que expõe a sua versão para o que aconteceu com a família de Nicolau II em "A Verdade Sobre a Tragédia dos Romanov", publicado há pouco pela Record. Este é um dos títulos sobre a dinastia que chegaram às nossas livrarias junto com o centenário da Revolução Russa – há exato um século os bolcheviques alcançavam definitivamente o poder, mas o czar já havia sido deposto meses antes. Há ainda obras como "Os Romanov – Fim da Dinastia", de Robert Massie, publicada pela Rocco, e "Os Romanov (1613 – 1918)", de Simon Sebag Montefiore, publicado no ano passado pela Companhia das Letras.
Os Romanov ocuparam o trono pela primeira vez depois do país passar por um turbulento período que sucedeu a morte em 1598 do czar Teodoro Ivanovich. Ao longo de mais de três séculos, a coroa adornou a cabeça de 20 homens da dinastia, que faziam praticamente de tudo para garantir a monarquia e o poder enquanto expandiam as fronteiras e tentavam dar alguma unidade à imensa nação.
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Os relatos a respeito dos membros da família imperial são recheados de autoritarismo, arbitrariedade e sangue. Além de Nicolau II, outros cinco mandatários tiveram suas vidas abreviadas de forma brutal, com estrangulamentos, punhaladas e até atentado com bomba. A violência em incontáveis momentos também foi a arma utilizada para garantirem os próprios interesses – Lenin chegou a dizer que o Romanov que ajudou a depor era o vilão mais sanguinário e maior inimigo do povo russo. A histórica e crescente concentração das riquezas entre os nobres enquanto a enorme maioria da população vivia na miséria, em um regime praticamente feudal em pleno século 20, foi essencial para que as ideais revolucionários florescessem e a Revolução Russa acontecesse.
Atualmente, pela maneira que centraliza e busca se perpetuar no poder, manobra os acontecimentos de acordo com interesses muitas vezes escusos, manipula pessoas e enaltece sua própria figura, Vladimir Putin, atual presidente russo, é frequentemente comparado a um czar e há correntes que defendem, inclusive, a volta da monarquia no país. Séculos passam, governos mudam, revoluções acontecem, mas aquele pedaço de mundo parece jamais se livrar do autoritarismo, de ter no poder pessoas que se consideram donas de tudo o que pertence à Rússia.
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Sobre o autor
Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.
Sobre o blog
O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.