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Judy: a cachorrinha que foi prisioneira e heroína da Segunda Guerra Mundial

Rodrigo Casarin

25/07/2017 09h35

Ao longo da história, homens sempre usaram animais em suas guerras. Cavalos e camelos já serviram para transportar carga, morcegos foram transformados em bombas voadoras e cães, por exemplo, ainda vão para o campo de batalha como farejadores, sentinelas e companheiros dos militares humanos.

Um dos cachorros – uma cadela, na verdade – que entrou para a história por conta de sua atuação na Segunda Guerra Mundial foi Judy, pointer que nasceu em Xangai e, adotada por soltados, tornou-se mascote de uma embarcação da Marinha Real Britânica. Se nos dias ordinários a cachorrinha fazia companhia, dava alguma leveza ao ambiente do navio e alertava quando outras embarcações, quase sempre inimigas, se aproximavam, foi nos momentos mais difíceis que Judy mostrou a braveza que, mais tarde, iria lhe valer uma medalha reconhecendo sua honra.

Quando o navio onde estava foi atacado por japoneses e naufragou, Judy conseguiu sobreviver com algumas dezenas de parceiros humanos. Alcançaram uma ilha deserta no mar chinês e foi a cadela a responsável por encontrar a água doce que garantiu a vida de todos. Em seguida, o grupo foi feito prisioneiro pelos japoneses e, contrariando as regras, Judy também foi levada à detenção na Indonésia, onde se transformou no único animal prisioneiro durante a Segunda Guerra Mundial (sob o registro 81A-Medan), o que lhe garantia os mesmos parcos direitos previstos para qualquer ser enjaulado na mesma situação.

Para que não deixassem Judy para trás, os militares presos costumavam escondê-la em sacos de arroz sempre que eram transportados de um lugar para outro. Em uma dessas viagens, no entanto, o navio onde estavam foi novamente alvejado e, para que a cadela tivesse alguma chance de se salvar, seus companheiros a arremessaram ao mar.

O grupo do qual Judy fazia parte foi levado, então, para Sumatra, onde trabalhariam na construção da chamada Ferrovia do Inferno. Meses depois, para surpresa de todos, a cadela conseguiu reencontrar seus camaradas de campo de batalha. Judy permaneceu com eles até que, enfim, após o final do conflito, rumou para a Inglaterra. Foi recebida com festa, seu latido foi transmitido por rádios e, em maio de 1946, recebeu a Medalha Dickin, condecoração britânica destinada aos animais que serviram na guerra.

Sobrevivendo também aos guardas que comiam cachorros

A editora Planeta acabou de lançar um livro que conta a história da cachorrinha: "Judy – A História Real da Cadela que Virou Heroína na Segunda Guerra Mundial", assinado pelo jornalista britânico Damien Lewis. O livro é daqueles que agradam quem gosta de uma boa história protagonizada por um carismático animal. "As pessoas costumam dizer que a verdade é mais estranha que a ficção. Sem dúvida, a história de Judy de Sussex é daquelas que qualquer um acharia visivelmente desafiadora de contar", registra o autor no prefácio do volume.

Já um dos sobreviventes entrevistados por Lewis relembra de como Judy resistiu à guerra: "Fiquei surpreso que um cão pudesse ter sobrevivido a tudo isso. Essa Judy sobreviveu ao inferno que era aquele lugar – foi incrível. Especialmente aos guardas coreanos dos campos – que costumavam comer cachorro. E tinham o poder de vida e morte sobre todos nós. Isso deve fazê-lo perguntar como conseguimos tamanha façanha – a de manter uma cadela como Judy. É parte do aspecto extraordinário da sua história".

Depois que chegou à Inglaterra, Judy passou o resto de sua vida com Frank Williams (com ela na foto que abre esta matéria), o soldado que lhe esteve mais próximo ao longo dos dias de mares, prisões e trabalhos forçados. Por conta de um tumor, precisou ser sacrificada em 1950, quando tinha cerca de 13 anos.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.