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Animado com o ano novo? Veja a definição de “Ano” no Dicionário do Diabo

Rodrigo Casarin

05/01/2017 11h08

 

Ano: um período de 365 decepções – isso segundo o "Dicionário do Diabo".

Calma, calma, não se trata realmente de um apanhado de verbetes feito pelo capiroto. O autor do dicionário é o escritor e jornalista norte-americano Ambrose Bierce, que passou cerca de 25 anos de sua vida reunindo definições ácidas e satíricas para palavras diversas – as primeiras anotações datam de 1881. A edição definitiva do "Dicionário do Diabo" foi publicada em 1911 e agora a Carambaia a publica pela primeira vez na íntegra no Brasil – versões nacionais anteriores costumavam omitir poemas que acompanham alguns verbetes.

Ao longo das páginas desse peculiar glossário, o que vemos é um autor essencialmente irônico. Para ele, por exemplo, "Amizade" significa "Um navio grande o suficiente para carregar duas pessoas quando há bom tempo, mas apenas uma na tormenta", enquanto "Filosofia" é uma "Rota de muitas estradas que leva do nada a lugar nenhum". "Circo", por sua vez, trata-se de um "Lugar em que cavalos, pôneis e elefantes podem ver homens, mulheres e crianças agindo como tolos".

"O 'Dicionário' é, no fundo, um libelo contra a soberba humana, contra as nossas pretensões. A religião é criticada antes de mais nada por sua pretensão a tudo saber. Os políticos, por sua pretensão à infalibilidade. Os norte-americanos, por sua pretensão a serem superiores aos demais", constata, no prefácio, Rogerio W. Galindo, também responsável pela tradução do volume.

Assim sendo, para Bierce, "Ladrão" é "Um sincero homem de negócios" e "Política", uma "Luta de interesses disfarçada de disputa de princípios. A condução dos negócios públicos para obter vantagens pessoais". Sendo ainda mais incisivo, o autor guardou para o verbete "Idiota" a seguinte definição:

"Membro de uma grande e poderosa tribo cuja influência nos assuntos humanos sempre foi dominante e controladora. A atividade do idiota não se limita a nenhum campo de pensamento ou ação específicos, e sim 'permeia e regula o todo'. Ele tem a última palavra em tudo: sua decisão é inapelável. Ele determina a moda e os juízos sobre gosto, dita os limites para a expressão e circunscreve a conduta ao impor um prazo".

Contudo, até mesmo no dicionário do tinhoso, ou melhor, de Bierce, há espaço para alguma reverência. Veja a definição para "Cachorro":

"Tipo adicional de divindade auxiliar concebido para pegar o fluxo superabundante e o excedente de adoração no mundo. Esse ser divino em algumas de suas encarnações menores e mais sedosas assume, no afeto feminino, o lugar a que nenhum homem aspira. O cachorro é um sobrevivente – um anacronismo. Ele não labuta nem tece e, no entanto, Salomão em toda a sua glória nunca ficou deitado sobre um capacho de porta o dia todo, encharcado de sol, cercado de moscas e gordo, enquanto seu senhor trabalhava para obter os meios com os quais comprar o preguiçoso abano do rabo salomônico, temperado com um olhar de tolerante reconhecimento".

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.