Marcelo Gleiser fala de pesca e critica arrogância científica em novo livro
Rodrigo Casarin
01/11/2016 14h30
Pesca fly: técnica na qual, a grosso modo, o pescador usa iscas artificiais e tenta fisgar o peixe na superfície do rio. É a partir da história de como descobriu o hobby e passou a praticá-lo que Marcelo Gleiser, professor titular de filosofia natural e de física e astronomia na Dartmouth College e figura conhecida de programas de televisão, constrói o seu novo livro, "A Simples Beleza do Inesperado" (Record), ensaio no qual reúne memórias, reflexões sobre ciência, fé e os limites do conhecimento e, claro, um bom tanto de física.
Sim, como já deve ter sido possível perceber, "A Simples Beleza do Inesperado" tem um tom constante de autoajuda, mas não que isso incomode Marcelo. "Toda filosofia é uma forma de autoajuda. É por isso que criamos, para nos ajudar. Pensamos o mundo para nos entender melhor nele. O significado pejorativo do termo vem da comercialização de respostas fáceis, empacotadas. Não acho que seja esse o propósito do 'Simples Beleza'", diz ele, também autor de livros como "A Dança do Universo" e "O Fim da Terra e do Céu", em entrevista ao Página Cinco.
Racionalismo que cega
Uma das partes mais interessantes da obra é quando Marcelo recorda de uma passagem de sua juventude no Rio de Janeiro. Após sua família receber uma suposta maldição vinda de uma ex-empregada, estantes com bebidas desabaram exatamente ao mesmo tempo em sua casa, sem que nenhum fato lógico (um leve tremor de terra, por exemplo) pudesse ter ocasionado aquele festival de vidro estilhaçado.
Esse dialogo entre o racional, o científico, o espiritual e o místico é algo permanente no livro, aliás. "Um cientista arrogante, que acha que sabe tanto, é feito um pavão com plumas faltando e sem um espelho para se enxergar. Aliás, o mesmo pode ser dito sobre todos os tipos de arrogância, não só dos cientistas", escreve.
Gleiser também é crítico àqueles que possuem uma "fé" cega na ciência e em diversos momentos fala sobre os males do "racionalismo excessivo", que, segundo ele, "pode acarretar numa cegueira, numa falta de autocrítica, por falta de uma visão mais abrangente do saber. Existem muitos modos de se conhecer o mundo, e a metodologia científica é um deles, com propósito definido. É essencial como ferramenta de descrição do mundo natural, mas não é a única que temos para vermos o mundo e suas várias facetas".
Sobre o autor
Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.
Sobre o blog
O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.