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Lucinda Riley: “O que define o feminismo é a igualdade, não a dominação”

Rodrigo Casarin

03/09/2016 09h55

Uma das atrações da Bienal deste sábado, a irlandesa Lucinda Riley já vendeu mais de 8 milhões de livros pelo mundo, foi traduzida para 22 línguas e publicada em 36 países, no entanto, é pelo Brasil que ela nutre um carinho especial. Quando esteve por aqui pela primeira vez, em 2012, apaixonou-se principalmente pelo Rio de Janeiro e pelo Cristo Redentor, que lhe serviu de inspiração para criar o primeiro livro da série "As Sete Irmãs". Agora a saga chega ao seu terceiro volume com "A Irmã da Sombra", cujo lançamento mundial acontece justamente aqui, pela editora Arqueiro, sua nova casa. 

"Estou feliz do Brasil ser o primeiro lugar onde lançarei 'A Irmã da Sombra', meus fãs brasileiros sempre me apoiaram muito. A obra sairá no Reino Unido e na Alemanha em novembro e no resto do mundo, só em 2017", disse a autora, que ainda passará pelo Recife, Rio e Curitiba, em entrevista exclusiva ao UOL. O título dá continuidade à história das seis órfãs, cada uma nascida em um canto do mundo, do bilionário Pa Salt. Com uma narrativa marcada pela pluralidade cultural e por apresentar mulheres fortes e complexas que Lucinda inclusive se posiciona sobre o movimento feminista em nossos dias. Para ela, o que o define é "igualdade, não a dominação".

O que os fãs podem esperar de "A irmã da sombra"?
O romance segue a jornada de Star, a terceira irmã. Tímida e reservada, ela cresceu na sombra de sua irmã mais velha, Cece, e é quando seu amado Pa Salt morre que Star ganha coragem para sair da sombra e descobrir quem ela é e de onde ela vem. É um romance essencialmente inglês e eu realmente curti explorar o país onde moro, das montanhas e lagos do norte da Inglaterra aos simpáticos jardins do sul. Também inclui minha paixão por antigos livros ingleses, ricos em história literária. Espero que meus leitores amem Star tanto quanto eu a amo.

Por que você optou por ambientar o primeiro volume da série no Rio de Janeiro? O que mais lhe atrai a cidade?
A primeira vez que vim ao Brasil foi em 2012, para a Bienal de São Paulo. Também viajei para Curitiba e para o Rio e ao longo da viagem fui ficando profundamente apaixonada pelo país e pelos brasileiros. A beleza e o acolhimento das paisagens e das pessoas foram algo único. Isso combinou muito bem com meu próprio "espírito". No Rio, quanto vi a primeira vez a icônica estátua do Cristo Redentor iluminada acima de mim, meus olhos se encheram de lágrimas. É difícil descrever o profundo sentimento que eu tive, foi um grande momento. Eu entendi que era algo mágico e eu simplesmente sabia que precisava escrever sobre isso.

Nos livros suas personagens são de diversos países. Como você escolheu as nacionalidades? Viajou para cada um deles para escrever os títulos?

Tenho muita sorte de ter a oportunidade de viajar bastante para as minhas pesquisas. Visitei todos os países que escrevi sobre e todos os lugares de onde meus personagens são para ter a certeza de que minhas descrições são autênticas. Encontrei nisso uma excitante maneira de aprender sobre diferentes culturas e escrever sobre personagens das mais vastas regiões do planeta. Também amo misturar culturas, nosso mundo moderno se tornou um caldeirão de diferentes nacionalidades.

Em "A Irmã da Sombra" foi especialmente divertido ter a suíça Star vivendo em meu país de origem e se maravilhando com os choques culturais. Sobre como eu escolho as nacionalidades dos personagens, são os próprios personagens que escolhem. Eles me vêm completamente formados e eles que decidem seus destinos, eu sou simplesmente a escritora!

E como funcionam as pesquisas histórias? Quais foram as maiores surpresas que você já teve nessas pesquisas?
Eu sempre começo lendo o máximo possível sobre o país e o tema escolhidos. Às vezes é um pouco difícil achar livros em inglês – por exemplo, para "As Sete Irmãs", muitos livros sobre o escultor Paul Landowski eram em francês, então realmente precisei ampliar minhas competências linguísticas. Depois disso, entro em contato com especialistas – para "A Irmã da Tempestade" fui ajudada por Erling Dahl, o mais famoso biógrafo do compositor Edvard Grieg, de quem "Peer Gynt Suite" é um ponto essencial na obra.

Como o passado é cheio de joias pouco conhecidas, já tive muitas surpresas durante minhas pesquisas. Para "As Sete Irmãs", tive a incrível sorte de encontrar Bel Noronha, bisneta de Heitor da Silva Costa, o arquiteto e engenheiro por trás do Cristo Redentor. Ela possibilitou meu acesso aos diários dele e me disse a verdadeira história da criação da estátua – uma história que parece ter muitas versões no Brasil. Fiquei chocada de encontrar muita gente no Rio que ainda acredita que o monumento foi um presente da França! O mistério sobre as mãos que moldaram a estátua que me serviu de inspiração para "As Sete Irmãs".

"Tenho escrito muito sobre guerras. Desta vez, quero inovar. Vou escrever sobre crises. É no meio de uma crise que você conhece verdadeiramente o caráter de uma pessoa", você disse certa vez em uma entrevista. O Brasil está novamente em uma crise. É hora de conhecermos nosso caráter? Você espera de fato conhecer o povo brasileiro agora, neste momento complicado?
Eu sinto que o mundo inteiro está vivendo um momento conturbado – mudanças políticas cruciais estão acontecendo em todos os continentes, a crise dos refugiados está no ápice, economias estão enfrentando outro momento de queda… é muito fácil para as pessoas olharem para tudo isso e se sentirem desesperançosas, como se suas vozes fossem inúteis. Eu realmente acredito que crises podem revelar o melhor das pessoas se elas tiverem coragem de sustentar suas convicções e ajudarem aqueles que não podem ter voz própria. Também acredito que olhar para as lições que a história nos ensina pode nos ajudar a fazer um futuro melhor.

Você também diz que não saberia descrever mulheres frágeis. A época desse tipo de mulher, principalmente nas artes, já passou? O que você acha do movimento feminista?
Eu não desejo criar mulheres que são unidimensionais, sem nenhum traço de caráter. Acredito que todo humano tem multicamadas e complexidade e é isso que busco representar na minha escrita – e penso que isso se conecta com os leitores. Então, minhas personagens femininas podem parecer frágeis em alguns momentos – como Star após a morte de seu pai -, mas elas também aparentam força. Quando comecei a escrever a série "As Sete Irmãs", estava muito atraída pelo fato que uma das irmãs era, de acordo com as lendas, uma mulher única e forte. E eu queria celebrar as realizações femininas, especialmente no passado, quando tantas vezes suas realizações para construir o que nosso mundo é hoje foram ofuscadas pelas realizações documentadas dos homens.

O que define o "feminismo" é a igualdade, não a dominação, e as mulheres sobre as quais escrevo, tanto do passado quanto do presente, aceitam que elas querem e precisam de homens em suas vidas. O mundo infelizmente continua sendo um lugar imperfeito e acredito que ele continuará a ser, porque sempre haverá novos desafios pela frente. Mas eu realmente acredito nos que os humanos – especialmente as mulheres – o fazem prosperar. Estamos todos trabalhando para um futuro melhor.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.