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Na Bienal, expositores esperam igualar 2014; preços do evento assustam

Rodrigo Casarin

02/09/2016 17h23

 

A 24ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo caminha para a sua reta final – acaba neste domingo, dia 4 – e, ainda que números não tenham sido revelados, conversando com expositores já é possível fazer um balanço prévio do evento. Alguns pontos chamam atenção: em um ano de grave crise financeira, por exemplo, para muitos, alcançar os números da última edição do evento, em 2014, quando o momento do mercado era muito mais favorável, já está sendo encarado como uma grande vitória.

Muito provavelmente por conta dessa mesma crise, o número de expositores no evento é visivelmente menor do que a última edição, o que, por sua vez, permitiu à organização redesenhar o pavilhão do Anhembi, oferecendo aos visitantes corredores mais amplos, o que diminuiu consideravelmente os outrora corriqueiros tumultos. Ainda nesse sentido, a distribuição dos banheiros melhorou – três quartos deles para as mulheres, que costumavam ficar em longas filas até então –, bem como a limpeza.

Agora, a crítica mais contundente dos expositores é com relação ao quanto custa para o visitante estar na Bienal. Em uma conta rápida, pesando em um final de semana, uma família de 4 pessoas, duas delas estudantes, deve gastar cerca de R$115 reais apenas para estacionar o carro (R$40) e entrar no Anhembi (R$25 o ingresso inteiro). Se resolverem comer algo, essas cifras ultrapassam tranquilamente os R$200, já que qualquer "promoção" de hambúrguer (pequeno, diga-se) com uma lata de refrigerante ou suco custa ao menos R$25. Segundo os expositores, isso faz com que o gasto nos estandes seja reduzido drasticamente, ou pior, faz com que possíveis interessados em visitar o evento mudem de ideia ao colocar na ponta do lápis o quanto ele custará para o bolso.

Veja o que disseram alguns dos expositores entrevistados:

"O início foi preocupante, achávamos que estava mais vazia do que nos anos anteriores, mas agora estamos bem satisfeitos, com previsão de atingir a meta que estipulamos. Não participávamos do evento desde 2008, mas pensamos que era hora de voltar depois de crescermos 100% em dois anos seguidos, queríamos mostrar esse bom momento", Orlando Prado, gerente comercial da Aleph.

"Somos novos, temos quase três anos, e viemos com o objetivo de nos mostrarmos para os editores, autores e público, foi uma ideia mais de marketing mesmo do que comercial. Para que a vinda fosse viável, tivemos parcerias com escritores e com a Primavera Editorial, que divide o estande conosco. Do jeito que as coisas estão indo, creio que teremos algum lucro material também, pelo menos o investimento [cerca de R$30 mil] deverá ser pago. Agora, também tenho críticas: para uma família vir para cá, por exemplo, gasta pelo menos uns R$240 com ingresso, estacionamento e comida, então acaba deixando de comprar livros com esse dinheiro", Felipe Larêdo, editor da Empíreo.

"No geral a Bienal está melhor arrumada e espaçosa. Do ponto de vista de negócios, as vendas estão ligeiramente menores do que em 2014, mas, ainda assim, representam um pequeno alívio em um ano complicado", Breno Lerner, superintendente da Melhoramentos.

"A Bienal começou devagar, mas pegou ritmo. Em um ano de crise, a expectativa já era diferente, negativa, porque em 2014 tinha sido muito bom. Mas estamos em um bom patamar e pode até ser que a gente empate com a última edição, o que, para o momento do mercado, já está ótimo", Jorge Rodrigues, diretor comercial da Comix.

"Está pior do que a última edição. Nos decepcionamos com o marketing, com a divulgação, com a presença na imprensa. Para estar aqui, uma família de quatro pessoas gasta uns R$300, então, se tirasse as escolas, ficaria vazio, como costuma acontecer a partir das 18h30, quando alunos já foram embora. Isso mostra que o evento precisa ser repensado, reestruturado, precisa ter outro foco. Fecharemos com números bem aquém de 2014", Adilson Silva, editor do Grupo Pensamento.

"A organização está melhor, o pavilhão foi redesenhado, corredores ficaram mais largos, a limpeza melhorou… mas claro que isso tem a ver com a redução dos expositores. Agora, o ingresso a R$25 é muito caro para uma feira de público, não de negócios. Quem está aqui no pavilhão está comprando, mas a pessoa tem que vir para o Anhembi, tem que ser atraído para cá. Minha maior crítica é a aposta excessiva nos youtubers em vez de autores internacionais de peso, cujos livros geram vínculos com os leitores. Precisavam ter caprichado mais nisso. E as vendas estão boas, mas esperávamos mais, estamos sentindo que o bolso das pessoas está mais curto. O que mais vendemos são lançamentos que acontecem aqui na Bienal e promoções. Em um ano complicado para o varejo, o objetivo é mesmo igualar 2014", Judith de Almeida, gerente de vendas de varejo do Grupo Autêntica.

"Viemos para a Bienal 2016 com muito otimismo, a editora investiu em infraestrutura, equipe e em um novo selo voltado para o público geek, o Geektopia, ciente da atual condição econômica no país. A expectativa de público não foi superada, o que consequentemente impactou nas vendas, no entanto, iremos aguardar o término do evento para fazer um balanço do retorno final. Os pontos que podem ser melhorados para a próxima edição são o acesso ao Pavilhão do Anhembi com uma maior integração de transportes, uma política ecologicamente correta de estacionamento e a entrada franca de segunda à quinta para movimentar o evento durante a semana também", André Maciel, coordenador de comunicação e marketing do Grupo Novo Século.

"A cada dois anos o mercado se transforma e muda totalmente, sentimos que o público jovem mudou muito em relação a 2014, a leitura como um todo se transformou. A Bienal é uma feira muito boa que possibilita o público leitor estar aqui e interagir com a editora, este ano temos uma feira com um público diferente, com um foco muito maior na geração youtuber e booktuber que está tomando conta do mercado, essa foi uma mudança que estamos vivenciando e criou uma expectativa diferenciada, mas sabemos que os nossos clientes são mantidos", Gleice Mori, coordenadora de marketing e comunicação da Disal Editora e Distribuidora.

"Mesmo em meio ao cenário econômico brasileiro, que não está tão favorável no mercado editorial, as vendas estão superando as nossas expectativas. Para essa Bienal, trouxemos cerca de 458 títulos que totalizam aproximadamente mil livros. Reparamos um visível aumento na movimentação de visitantes no estande e seguimos surpresos com a interação e a resposta dos leitores com nossos autores e as atividades que já oferecemos. Se o mercado está em crise, nós rezamos para pedir que melhore e se o mercado está bem, rezamos para agradecer", padre Mauro Vilela, diretor comercial das editoras Santuário e Ideias & Letras.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.