“Dan Brown carioca” se apoia em Camões para construir história rocambolesca
Rodrigo Casarin
09/08/2016 10h21
A fórmula é bastante conhecida: um personagem que se envolve em uma trama rocambolesca, que beira o absurdo, e busca desvendar algum grande mistério da humanidade, normalmente ligado a figuras religiosas, cujo caminho para solução está subentendido em representações artísticas consagradas. Um exemplo? Robert Langdon, o simbologista criado por Dan Brown que procura por um segredo relacionado a Jesus Cristo analisando obras de arte de séculos passados. O livro, claro, é o famoso "O Códio da Vinci", provavelmente o representante mais conhecido desse tipo de literatura.
"Na busca das soluções destes segredos, vários autores já percorreram caminhos diversos, mas nunca nenhum foi feito por Portugal e pela cultura lusitana, o que é uma grande falta, pois como é sabido, Portugal e outros países ibéricos deram abrigo aos cavaleiros que foram caçados no resto da Europa. Nada mais óbvio então que se percorrer um caminho português em direção a estas soluções. Camões e sua obra têm lugar como guias que levam nosso protagonista a se aventurar em uma caçada", diz Correira sobre a narrativa que passa por lugares da Europa e do Brasil, como o Gabinete Português de Leitura, localizado justamente na Rua Luís de Camões, no Rio de Janeiro.
A ideia de utilizar "Os Lusíadas" ocorreu ao autor após identificar coincidências que, a seu ver, não poderiam ter sido feitas ao acaso por Camões. "Isso me fez ganhar mais interesse e me aprofundar no texto. Aos poucos percebi que havia lógica em minhas suposições. Grande parte destas suposições foram usadas de pano de fundo para a confecção da minha trama, mas existem algumas ainda que estão sendo amadurecidas para edições de obras futuras, inclusive de não ficção. Sobre a vida do autor, era preciso conhecê-la para saber o quanto que ele estava ligado aos segredos dos templários, e ao fazer estas pesquisas, achei muita coisa interessante que com certeza o colocava como peça chave da solução".
Uma dessas suposições, por exemplo, está nos seguintes versos, que levariam a um segredo escondido em uma joia arquitetônica da cidade de Tomar: "Muitos querem a rosa encontrar,/ Onde está tal ninfa? – Se perguntam./ Lá no Castelo da Cruz do Ultramar,/ Onde profano e santo então se juntam,/ Vamos ao capítulo ver as medidas/ Das pedras que jazem ali caídas.// Pelo chão é bem fácil de contar/ Da boca feia, a primeira pisa,/ Então cinco, mais a frente andar,/ Mais duas ao lado, uma mais lisa./ Embaixo desta então se avista/ Nada menos que a próxima pista".
Voltando à comparação com Dan Brown, Correia gosta do paralelo e ressalta que, tal qual costuma fazer o autor estadunidense, seu trabalho é um recorte de diversos elementos reais. "Todos os lugares turísticos ou históricos que são descritos na obra tem sua descrição de forma correta e em sua maioria foram visitados por mim, todos os acontecimentos históricos narrados são conhecidos no mundo acadêmico e são considerados, portanto, reais. A ficção está, pois, no nexo que faço entre estes ingredientes. Ou seja, o leitor lê um livro de ficção onde quase tudo é real, menos as suposições lógicas que encadeiam a trama", explica. "Então, esta ficção passa a ser, quem sabe, uma hipótese histórica", completa. Quem sabe….
Sobre o autor
Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.
Sobre o blog
O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.