Saci encontra Harry Potter: autor leva folclore à literatura fantástica
Rodrigo Casarin
20/07/2016 10h51
Apaixonado por literatura fantástica, Gustavo Rosseb, hoje com 31 anos, andava um tanto desapontado por não encontrar toques brasileiros nos livros do gênero. Resolveu, então, criar a sua própria história explorando elementos do folclore nacional. Assim nasceu a série "As Aventuras de Tibor Lobato", uma trilogia juvenil que leva criaturas como Mula sem Cabeça, Saci, Pisadeira, Porca dos Sete Leitões e Gorjala para narrativas que muita gente compara com o universo de "Harry Potter" e "Desventuras em Série" – nicho semelhante ao já explorado por um outro autor brasileiro contemporâneo, aliás, Felipe Castilho.
"Acredito que há um universo fantástico gigantesco em nossa cultura e que ele pode sim ser usado e revisto de milhões de maneiras diferentes. Sem ter nada a perder para mitologias de fora. Muito pelo contrário. Temos regiões diversas, pessoas e crenças diversas. Tudo em um vasto terreno que é nosso país. Isso é material de sobra pra o imaginário brincar como quiser. Trabalhar esses personagens e esse material todo de uma maneira lúdica como a literatura fantástica é uma forma de passar nossos valores adiante. Trazê-los à luz para, talvez, mudar alguma coisa. Despertar uma reflexão", acredita o autor.
Seu personagem preferido, no entanto, é o Saci, tanto que tem um tatuado em seu braço. "Gosto muito da ideia desse ser de uma perna só e seu cachimbo. Ele é um símbolo. O símbolo. Ao dizer 'folclore brasileiro', ele é o cara que está no começo da fila. E é engraçado notar como, mesmo assim, pouco se trabalhou esse personagem até então, perto do tanto que ainda existe pra falar. Por exemplo: o folclore do Saci diz que essa criatura fica em gestação dentro do bambu por sete anos. E então ele nasce com 7 anos de idade… e morre com 77. Até então eu nunca tinha visto um Saci velho. Nas aventuras de Tibor Lobato é com um saci velho que eles tem de lidar. Como seria encontrar por aí um ser que passou a vida toda aperfeiçoando-se na arte de atazanar animais e pessoas?".
Para Rosseb, usar o folclore nacional na literatura é uma forma de gerar uma identificação mais assertiva com o leitor. "São histórias que falam um pouquinho de você, do seu dia a dia, de mim, de nossos pais, nossos avós, de algo mais próximo de nós. É uma forma de fazer a coisa perdurar, passar adiante. De entender mais nosso povo", argumenta.
Apesar do tom verde e amarelo da obra, evidentemente que o autor também tem suas referências estrangeiras, a começar por "Cavaleiros do Zodíaco", desenho que "amava assistir". Rosseb também elenca como obras fundamentais para a sua formação o próprio "Harry Potter", de J. K. Rowling, "As Aventuras do Caça Feitiço" de Joseph DeLaney, as séries "Os Guardiões" e "Os Guardiões da Infância" de William Joyce, "Jurassic Park" e "O Mundo Perdido" de Michael Crichton, "Pirapato" de Chico Anes, os filmes e roteiros de M. Night Shyamalan, como "O Sexto Sentido", "O Corpo Fechado", "Sinais" e "A Vila".
Por falar em cinema, aliás, os direitos da trilogia "As Aventuras de Tibor Lobato" já estão cedidos para a Parakino Filmes, que no momento trabalha no roteiro para a adaptação do primeiro livro da série. A ideia é que a história chegue às telonas no final de 2018.
Sobre o autor
Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.
Sobre o blog
O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.