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Não seria ótimo se as crianças dessem sossego lendo um livro?

Rodrigo Casarin

17/04/2020 09h55

Quarentena, filhos em casa e pais um tanto enlouquecidos. Precisam cuidar do lar e dos pequenos enquanto tentam seguir trabalhando. É esta a atual realidade de muita gente. Dentre os pouco confiáveis relatos que chegam via WhatsApp, há até quem diga aproveitar esse tempo para ensinar a cria a ser autodidata. Repito: ensinar a ser autodidata. É uma época maluca mesmo.

Mundo afora, há quem tenha consciência de suas limitações e aposte em formas mais ortodoxas de transmitir conhecimento às crianças confinadas. Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, por conta da demanda de clientes, a Amazon passou a tratar livros infantis e didáticos como itens de primeira necessidade, que precisam ser entregues com a mesma urgência do álcool em gel ou do papel higiênico.

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Dentre os mais vendidos da empresa na Grã-Bretanha, houve um aumento significativo nos volumes indicados para quem tem até cinco anos. Efeito semelhante foi observado nos Estados Unidos, onde, após uma queda nas vendas, no meio de março foi registrado um aumento expressivo na procura por livros juvenis e, principalmente, infantis, com destaque para títulos educativos e com atividades recreativas.

"Crianças Lendo", do francês Édouard Vuillard.

No Brasil, por outro lado, onde tem gente ensinando o filho a ser autodidata, a coisa está feia, bem feia. O mercado editorial, no geral, encolhe. A Saraiva, uma de nossas principais redes de livraria, entra num buraco ainda maior do que o buraco em que estava metida. E a procura por livros para crianças e jovens também despenca. Constatamos isso vendo a relação dos mais vendidos do Publishnews, uma das listas mais conceituadas do mercado. Na primeira semana de março, os 20 presentes na lista de infantojuvenis somavam 12.701 exemplares comercializados, número que saltou para 13.807 no período seguinte. Daí pra frente…

Entre os dias 16 e 22 do mês passado, total de 5.572 infantojuvenis negociados pelas livrarias. Entre os dias 23 e 29, apenas 1.731 (20 exemplares vendidos já garantiam um lugar nesta lista; 48 valiam uma vaga no top 10). Entre o final de março e a primeira semana de abril, uns caraminguás a mais: 1.805 livros infantis e juvenis foram adquiridos por leitores ou, mais provável, pelos pais de potenciais leitores. Editoras estão indo além das principais livrarias e procurando novas formas de encontrar seu público, é verdade, mas isso não diminui a preocupação com os números. Se há alguém no mercado editorial tranquilo por esses dias, desconheço.

Voltando ao cerne do texto e pegando um outro termômetro, a lista de tendências da Amazon observada nesta terça, dia 14, mostrava que apenas três livros para crianças andavam com um aumento significativo em sua procura: "Aprenda em Casa: Pré-escrita", "Caligrafia. Caminho Suave" e "365 Atividades com Unicórnios". É uma pena.

Pais, o que acham de aproveitar a quarentena para estabelecer uma rotina de leitura em casa? Façam o seguinte: reservem alguns minutos do dia (para começar, uns vinte já está ótimo), desliguem o celular, a tevê e afins e acomodem-se num canto, cada um com seu livro. Deem o exemplo aos pequenos, tentem conduzi-los no caminho da leitura por prazer. Quem sabe, em alguns dias, eles não estarão indo além desse momento familiar e lendo por conta própria em outros períodos, dando um pouco da paz que vocês tanto desejam.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.