Vinte anos de Harry Potter no Brasil: lembranças entre pedradas e fanatismo
Me lembro bem. Numa tarde, minha irmã mais velha chegou em casa com um livro e disse algo como: "Andam falando muito dele, está fazendo sucesso no mundo todo". Comprou para ela, mas deixou comigo. Falou que eu poderia ler primeiro. Demorei para engrenar. Achei meio nada a ver aquele papo de moleque trancado dentro do armário. Parei. Retomei. Fui aos poucos. Quando deslanchei, conheci a história que marcaria o final da minha infância e o começo da juventude.
A chegada de Harry Potter ao Brasil, pela Rocco, acaba de completar 20 anos. Devo ter lido o primeiro livro da série pouco depois dele ser publicado por aqui, quando tinha doze anos. Segundo minhas lembranças, tão logo terminei "Harry Potter e a Pedra Filosofal", saí em busca do segundo volume, "Harry Potter e a Câmara Secreta". Encontrei num supermercado do Tucuruvi que mudou trocentas vezes de nome antes de ser colocado abaixo para dar lugar a mais um shopping ou centro comercial, um troço horroroso. Se por acaso a data do lançamento do segundo não bater com o meu registro, me perdoem, memórias são mesmo falhas.
Demorou para que o terceiro livro da série fosse lançado no Brasil. Aproveitei o tempo para reler incessantemente os dois primeiros. Aliás, reler diversas vezes tudo o que havia saído de Harry Potter enquanto aguardava o calhamaço que daria continuação à saga se tornou um ritual de espera. Quando chegou, "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" não trouxe apenas o episódio de que mais gosto, mas também colocou no jogo um dos meus personagens favoritos: o misterioso Sirius Black. Dentre meus prediletos, também estão o sábio Alvo Dumbledore e o desengonçado Rúbeo Hagrid, talvez o que mais se assemelhe comigo.
"Harry Potter e o Cálice de Fogo" é, certamente, o maior livro no qual já mergulhei mais de meia dúzia de vezes. Já o quinto, "Harry Potter e a Ordem da Fênix", marca a ruptura. Li, gostei (mais do que o anterior), mas não lembro de ter relido. Houve um intervalo grande até a publicação de "Harry Potter e o Enigma do Príncipe". Quando este chegou nas nossas livrarias, já estava na faculdade e meus interesses eram imensamente diferentes daqueles que tinha aos doze, quando conheci o bruxo. Não li o sexto volume. Também não li o sétimo, "Harry Potter e as Relíquias da Morte". Nem assisti aos filmes. Seja na literatura, seja no cinema, jamais cheguei ao final da história.
Desde então, permanece o carinho pela saga, por Hogwarts, pelas amizades, pelo universo fantástico (por Potter, menos, acho o personagem um saco). Não estou entre os fãs bitolados, aqueles que veem a obra de J. K. Rowling como a melhor coisa já feita na história da arte. Tampouco me alinho com os críticos que apedrejam a obra sem, em muitos casos, sequer conhecê-la com alguma profundidade, seguindo a equivocada linha do "se é popular, não presta". Deve existir um meio-termo nesse embate. No extremo, é inegável que Harry Potter serviu para criar uma geração de leitores e possibilitou que editoras aproveitassem o lucro com o bruxo para apostar em vários autores, o que já é muito.
Fato é: no último ano pensei em reler a história e dar conta dos tomos desconhecidos por mim, mas desisti logo nas primeiras páginas do primeiro livro. Fato também é: adorei ganhar da minha esposa, no último Natal, um roupão e uma touca da Grifinória. Talvez eu não seja mesmo mais leitor de Harry Potter, mas ele segue vivendo num armário bem especial em algum canto do meu imaginário.
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