Rubem Fonseca em cinco livros: um caminho para conhecer a obra do autor
Agora é Rubem Fonseca que nos deixa. O Brasil anda perdendo seus gigantes da arte. Aqui tem um panorama da obra e dos elementos caros às narrativas de Fonseca. Para quem quiser conferir o que levou o cara a ser considerado um dos nomes mais importantes de nossa literatura, deixo aqui cinco livros que servem como caminho possível (mas não único, ressalto) para entender sua obra:
"A Coleira do Cão", de 1965 – Rubem Fonseca já chamou a atenção de críticos e leitores com "Os Prisioneiros", seu livro de estreia, de 1963. Dois anos depois, com "A Coleira do Cão", confirmou a boa impressão que deixara. As relações conturbadas entre os personagens e os problemas sociais das cidades, dois traços que marcam sua obra, já estavam presentes nessa fase inicial. Segundo a crítica, um dos contos desse segundo livro que merece atenção especial pela maneira como o autor constrói os conflitos de seu protagonista, um marombado profissional, é "A Força Humana".
"Feliz Ano Novo", de 1975 – é, provavelmente, o livro mais festejado do autor, ao menos entre leitores frequentes. Foi censurado pelos militares e proibido de circular porque os fardados que torturavam pessoas nos porões da ditadura se sentiram ofendidos pelos palavrões empregados nas narrativas cheias de violência. No conto que dá nome à obra, uma quadrilha comete barbaridades em meios aos festejos da virada de ano. O que os bandidos fazem numa casa luxuosa pode mexer com os leitores mais sensíveis.
"Bufo & Spallanzani", de 1985 – Rubem Fonseca é celebrado principalmente pelos seus contos, não há como negar. Mas ele também fez incursões bem-sucedidas no romance. Sua estreia no gênero foi em 1973 com "O Caso Morel". Porém, para termos algo dos anos 1980 aqui nesta breve lista, a dica de leitura é uma outra narrativa longa de Rubem: "Bufo & Spallanzani". Nela, um policial se desdobra para desvendar a morte de uma moça querida pelos endinheirados do Rio de Janeiro. A história foi levada ao cinema no começo dos anos 2000 pelo diretor Flávio Tambellini.
"Agosto", de 1990 – escrevi que entre leitores assíduos a obra mais festejada de Rubem Fonseca deve ser "Feliz Ano Novo". A mais conhecida do público geral, por outro lado, talvez seja "Agosto", que virou minissérie global estrelada por José Mayer e Vera Fischer. Temos, aqui, um romance histórico com a pegada policialesca cara ao universo de Rubem. Um investigador, ao escarafunchar um crime cometido no Rio de Janeiro no início de agosto de 1954, acaba cruzando com o que pode ter descambado no suicídio de Getúlio Vargas, então presidente. Na narrativa, são os homens graúdos, aqueles que podem mudar os rumos de uma nação, que estão envolvidos com as sacanagens comumente retratadas pelo autor.
"Amálgama", de 2013 – por fim, um título da última fase do escritor: "Amálgama", vencedor do Jabuti de 2014 na categoria Contos e Crônicas. Nele, Rubem apresenta contos que fazem jus à fama que construíra ao longo de cinco décadas, mas também demonstra certo cansaço. Ao menos é o que apontou o crítico literário Alfredo Monte em resenha para a Folha. "Fonseca parece imitar um jovem e ainda inábil escritor influenciado por sua obra", crava, fazendo a ressalva de que algumas narrativas honram a história do autor. E por que indico também este livro? Porque nem só de genialidade é feita a carreira de um grande nome das letras.
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