As brigas e a genialidade de Caravaggio pelos traços de Milo Manara
Caravaggio, um dos maiores pintores da história, foi-se em 1610, aos 38 anos. Somente séculos mais tarde, em 2018, que cientistas franceses encontraram a provável causa de sua morte: uma infecção causada pela bactéria Staphylococcus aureus. Ao anunciarem a descoberta, cravaram uma hipótese: o italiano teria sido infectado após levar bordoadas numa briga. Aposta fácil essa dos pesquisadores.
Caravaggio, como se sabe, deixou quadros incontornáveis para a história da arte – "São Jerônimo Escrevendo" está entre minhas pinturas favoritas. Também deixou uma biografia de causar inveja a qualquer baderneiro contemporâneo. Brigas em tavernas e problemas com autoridades ilustram diferentes momentos de sua trajetória marginal, que tem como ponto máximo um assassinato cometido em 1606, em Roma – garantem que ele matou e decapitou o seu adversário após desavenças num jogo.
Fugindo da iminente prisão, perambulou por lugares como Nápoles, Malta, Sicília e o derradeiro Porto Ercole. Seguiu arrumando inimigos perigosos e pintando quadros deslumbrantes, fortemente marcados pelo jogo de luz e sombra e, em alguns casos, também pela violência – lembremos de "Decapitação de João Batista" ou "Davi com a Cabeça de Golias", que parecem acenar para o homem assassinado em Roma pelo artista.
É essa última fase da vida de Caravaggio que o italiano Milo Manara explora em "O Perdão", graphic novel que acaba de sair no Brasil pela Veneta. Em 2015 a editora já havia lançado "A Morte da Virgem", trabalho no qual o mestre da HQ erótica leva para os quadrinhos outro momento da vida do pintor.
Fiel ao personagem, os dois elementos fundamentais para a história de Caravaggio se destacam no livro de Manara: as brigas e as pinturas. A porradaria e as lutas de espada comem soltas em algumas páginas. Há, inclusive, alusão ao ferimento que teria causado a infecção mortal. Em outras, é um desbunde se deparar com a criação de quadros como "O Enterro de Santa Luzia", "A Ressurreição de Lázaro" e "Flagelação de Cristo".
O erotismo caro a Manara também está presente nos quadrinhos, evidente, só que de modo bem mais sutil (e melhor integrado à narrativa) do que nos trabalhos mais célebres do artista, como "Clic" e "El Gaucho".
Veja alguns quadros de "Caravaggio – O Perdão" (clique nas imagens para ampliá-las):
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