Edward: o hamster mais insatisfeito e curioso do que muita gente por aí
Edward leva uma vida sem grandes emoções, a não ser por suas angustias. "Por que existir?", gostaria de saber. Durante tempos, além de pensar, seu cotidiano se limitou a três possibilidades: andar numa roda, beber água e comer sementes. "Sexta-feira, 16 de maio. Usei a roda. Comi sementes. Bebi água", registrou certa vez em seu diário, após um dia cheio. O brinquedo foi o primeiro alvo de sua insatisfação. Quando a revolta aumentou, ficou radical. "Nada mais haverá na vida?", refletiu ao encarar o trio de sempre.
Roda. Sementes. Água. Resolveu se rebelar contra a tirania, contra os soberanos que lhe infligiam aquela condição. Estava decidido: não aceitaria alimentos e água até que conquistasse a liberdade. Entendia que o final poderia ser outro, mas topava arriscar a própria vida para lutar pelo que almejava. Foi bravo o Edward. Cortou mesmo a água. Privou-se mesmo da comida. A roda permaneceu sem ranger. Estava focado. A revolução era inevitável. Isso durante algum tempo. Pouco tempo. Sua greve durou exatos 14 minutos. "De que vale um hamster morto para a resistência?", indagou-se ao encher a boca de sementes e tomar sua água. É preciso se fortalecer para a luta pela independência, afinal.
Essa é sua uma das passagens da vida de Edward, um hamster que vive dentro de uma gaiola e divide tanto seu cotidiano quanto seus pensamentos com um diário. Tais registros que deram origem ao livro "O Diário de Edward, O Hamster (1990 – 1990)" (Todavia). As datas de nascimento e morte do filósofo roedor já dão o tom de ironia da obra escrita e ilustrada pelos irmãos ingleses Miriam Elia e Ezra Elia e traduzida para o português por Érico Assis.
Daqueles livretos para puxar da estante e ler numa sentada rápida, entre uma atividade e outra, o diário vale pelas inquietações de Edward, intelectual depressivo que passa a breve vida em permanente conflito com o seu interior e com o limitado mundo ao se redor. Companhias de outros hamsters acabam servindo apenas para tumultuar ainda mais as coisas, colocando no seu leque de preocupações elementos como a ignorância, o amor e a esperança. Triste é encontrar em Edward, um rato, a curiosidade e a insatisfação que parecem faltar em muitos seres humanos por aí.
Você pode me acompanhar também pelas redes sociais: Twitter, Facebook, Instagram, Youtube e Spotify.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.