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Com direito a conjes, Caco Galhardo escolhe 5 de suas tiras mais marcantes

Rodrigo Casarin

02/07/2019 09h46

É monumental o livro "Cinco Mil Anos: E Quase Todas as Tiras", que o quadrinista Caco Galhardo acaba de lançar pela Quadrinhos na Cia. Em 1997, Caco estreou na Folha de São Paulo com tirinhas que apresentaram aos leitores personagens como Lili (que viraria série pela GNT), os Pescoçudos, Chico Bacon, o Amabilíssimo Homem das Neves e a dupla Umberto Ego e Gilberto Gideleuze.

Todos esses ícones de nossos quadrinhos – e diversos outros – estão presentes na antologia que reúne trabalhos feitos pelo artista nesses últimos 20 e poucos anos. São principalmente tirinhas cheias de humor, provocações ao cotidiano e reflexões existenciais, mas também algumas charges, histórias breves e releituras de quadros famosos (aqui assumo minha paixão pela versão galhardiana para "Nighthawks", de Edward Hopper).

Na apresentação, o escritor Reinaldo Moraes define "Cinco Mil Anos" como uma "máquina de arrebentar diafragmas de tanto rir". Na sequência, afirma que as HQs de Galhardo são "verdadeiros haicais de humor fulminante que te fazem também abanar a cabeça, vez por outra, em concordância filosófica com as sacadas dos personagens, cheias de uma sabedoria de vida, em versão pop, encontrável, penso eu, apenas na obra dos melhores cartunistas".

A pedido do Página Cinco, Caco selecionou cinco tiras presentes na antologia que considera representativas de sua obra. "Tarefa árdua, a coletânea é um tijolo de mais de 300 páginas e tem muuuuuita coisa", diz ele. "Acabei optando por cinco personagens que são meus xodós, lá vai":

"Essa é a primeira tira de 'Lili, A Ex', lançada em 2009 (lá se vão dez anos). Na época, várias amigas tinham se separado e minha ex-mulher ficava horas com elas no celular, falando sobre os exs. Acabei desenhando a ex obcecada. Deu tão certo que virou uma premiada série no GNT, estrelada pela Maria Casadevall. Marcou também minha entrada no mundo dos roteiros de filmes e séries".

"Alguns séculos antes de criar a Lili, estreei na Folha de São Paulo com esses personagens esquisitos, os 'Pescoçudos'. Eles não só tinham uma visão distorcida da realidade, mas contorcida também. Era um povinho neurótico, que só trabalhava, tomava remédio e não enxergava uns aos outros. Isso é década de 1990. E quer saber? A coisa só piorou, acho que entortamos o pescoço de vez! Se bobear, tá na hora de voltar a desenhar esses 'caritchas'".

"Depois de alguns milênios desenhando 'Pescoçudos', restou-me um baita torcicolo. Me enchi de fazer tanta crítica comportamental e resolvi soltar o frangolhão. O Chico Bacon é um personagem sem superego, sem filtros, um cara que pode fazer qualquer coisa que lhe dê na telha. Pra ele, tudo é possível. Foi uma espécia de libertação, que combinou com uma fase de excessos na minha vida pessoal. Sim, eu estava precisando".

"Os Conjugal Fighters são 'conjes' com superpoderes que vivem em um mundo de picuinhas de qualquer casal normal. Só que, no caso, as picuinhas são resolvidas com jatos de raios gama, socos com a potência de mil cavalos e chutes no vácuo com joelhada".

"Tudo que o Pequeno Pônei quer é ser um poeta underground, um Bukowski, um guitarrista punk rock. O problema é que ele é um pônei, um maldito bicho fofo. Por isso ele está sempre resmungando: 'odeio o sistema!' O Pônei também foi adaptado para a televisão, em uma série de animações no Cartoon Network, na época em que eles tinham uma faixa de animações adultas, o 'Adult Swim'. E lá se foram cinco mil anos, that's all folks!"

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.