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As princesas que dispensam príncipes, pegam a espada e matam seus dragões

Rodrigo Casarin

22/09/2017 08h49

Após a morte do marido, até então imperador, Jingu ignorou os rituais de luto, tomou a dianteira de um exército com mais de cem mil homens, pediu a palavra e ordenou que todos voltassem para suas casas; ela cuidaria sozinha da guerra que assolava o país. Brunhilde, talvez a mais famosa das valquírias, estava com armadura de metal e espada em mãos quando Odin lhe fez um pedido especial: que protegesse Sigmund, seu filho. Yennenga "ainda adolescente comandara seu próprio batalhão, uma horda de homens belicosos, violentos, bêbados e temperamentais, todos obedientes como ovelhas à voz da moça".

Ártemis, filha de Zeus com uma mortal, flechou um caçador que tinha lhe visto tomando banho em um lago – o homem prontamente foi transformado em um cervo selvagem. Oyá, também conhecida como Iansã, às vezes assumia a forma de búfala para se sentir mais forte e poder correr mais do que como humana. Já a Mãe de Ouro está sempre disposta a vingar mulheres que tenham sofrido nas mãos de homens.

Princesas que são apresentadas como criaturas frágeis e insossas sempre à espera de um príncipe que possa lhe salvar de um dragão (e aqui entenda o dragão como uma metáfora para qualquer adversidade) felizmente não são mais unanimidades em narrativas infantis e juvenis há algum tempo. Um novo livro que traz mulheres poderosas, que se colocam com braveza diante de situações complicadas, resolvem seus próprios problemas e têm grande capacidade de liderança chegou há pouco às livrarias: "Princesas Guerreiras", de Janaina Tokitaka, publicado pela Pallas – e de onde retirei a citação sobre Yennenga.

As seis histórias narradas na obra – todas resumidas nos dois primeiros parágrafos deste post – resgatam personagens lendárias e mitológicas de diferentes partes do mundo: dos iorubás vem Oyá, comumente chamada no Brasil de Iansã, Mãe de Ouro também é daqui, Jingu vem do Japão, Brunhilde, dos nódicos, Ártemis, dos gregos, e Yennenga, de Gana. "O que define uma princesa? Princesas não podem demonstrar força, coragem, curiosidade e inteligência? Será que sua nobreza é fruto de posses e títulos, ou pode vir de dentro dela mesma? Algumas culturas pensam em suas heroínas de um modo diferente", escreve a autora na introdução do volume.

Escritora e pesquisadora de contos de fada, Janaina é também artista visual. São delas as belas ilustrações de "Princesas Guerreiras", algumas cedidas para ilustrar esta matéria.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.