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Quer ler algo novo? A cativante e excêntrica Yoko Ogawa é uma boa opção

Rodrigo Casarin

26/08/2017 11h45

Professor. Desta forma que o principal personagem do romance "A Fórmula Preferida do Professor" é chamado ao longo de toda a história. E o Professor é alguém bastante peculiar. Sua memória imediata não dura mais do que uma hora. Fora os últimos 60 minutos, só se recorda do que aconteceu na sua vida até meados da década de 1970, é por isso que carrega uma porção de bilhetes no mesmo terno surrado com o qual sempre se veste. Por conta da sua confusa cabeça, nunca sai de casa, onde passa quase todo o seu tempo acordado resolvendo desafios matemáticos – o trato com os números é a sua maior paixão.

Não é fácil lidar com o Professor, por isso que as empregadas que por sua residência passam – convocadas por uma misteriosa e rude parente que mora ao lado – duram pouco tempo. A exceção é uma nova contratada que em um dos primeiros dias de trabalho leva seu filho consigo ao emprego. Então, o isolado professor passar a desenvolver um inesperado carinho pela criança, que apelida de Raiz – sim, o símbolo matemático. A partir disso, uma história que fala principalmente sobre o afeto se constrói.

"A Fórmula Preferida do Professor" foi lançado no Japão em 2003 e não demorou para que se tornasse best-seller – já vendeu mais de 4 milhões de exemplares e foi adaptado para o cinema por Takashi Koizumi. Graças ao trabalho, a japonesa Yoko Ogawa ganhou o Sociedade Nacional de Matemáticas, um dos muitos prêmios de sua carreira. No Brasil, a obra saiu neste ano pela Estação Liberdade, que no ano passado já tinha lançado um outro título da autora, "O Museu do Silêncio".

Dentre os dois, gostei mais do segundo. Nele, um museólogo chega a uma cidade perdida no interior do Japão onde terá um emprego no mínimo diferente: ajudar a montar o Museu do Silêncio. Para tal, além de organizar a catalogar peças, deve buscar novos objetos para o peculiar acervo, que reúne os pertences mais simbólicos das pessoas que morreram no vilarejo – no caso de um cego, seu olho de vidro, por exemplo. O projeto é um devaneio de uma senhora um tanto hostil, de idade bastante avançada, que obriga seu novo funcionário a burlar qualquer regra para alcançar o que o museu necessita.

Poucas pessoas costumavam morrer por aqueles cantos, no entanto, após a chegada do museólogo, uma onda de assassinatos assusta a cidade e o força a trabalhar em um ritmo inesperado e a lidar com situações com as quais jamais havia imaginado – como revirar corpos mutilados após atentados. A impressão que dá é que, com o desenrolar da história, o protagonista se deixa levar por uma realidade apartada do resto do mundo.

Seja pelos personagens, seja pelas tramas, os livros de Ogawa são misteriosos, cativantes e em muitos momentos excêntricos. "A Fórmula do Professor" e "O Museu do Silêncio" são boas dicas para quem procura por uma literatura um tanto diferente da que estamos habituados.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.