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“Se eu fosse jogador de futebol, seria o mesmo que encontrar Pelé”, diz escritor sobre recente visita a Antonio Candido

Rodrigo Casarin

12/05/2017 11h29

Em meados do ano passado, Alex Bezerra de Menezes, autor de "Depois do Fim", publicado pela Simonsen, mandou uma foto pelo celular que, apesar de tremida e desfocada, me causou certo espanto. Era ele abraçado com Antonio Candido. Como assim, encontrou o grande crítico andando pela rua e o levou até uma biblioteca? Na verdade, Alex conseguira que Candido o recebesse no escritório de sua casa em São Paulo para um papo, algo de causar inveja a qualquer escritor, amante de literatura ou pessoa que preze por uma conversa com alguém de grande mente.

Agora, por conta da triste notícia da morte de Candido, pedi para que Alex lembrasse como foi aquele momento. Ele me mandou o breve relato abaixo, no qual aponta o que mais lhe chamou atenção: os elogios do mestre, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT), ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC).

ANTONIO CANDIDO MOSTROU AO PAÍS A IMPORTÂNCIA DE TERMOS UMA LITERATURA BRASILEIRA

OS 11 LIVROS QUE ANTONIO CANDIDO CONSIDERAVA FUNDAMENTAIS PARA ENTENDER O BRASIL

ADOLESCENTE, ANTONIO CANDIDO NÃO OUSAVA LEVAR LIVRO DE OSWALD DE ANDRADE PARA CASA POR CONTA DAS CENAS "ESCABROSAS"

Eis o depoimento de Alex:

Se eu fosse um aspirante a jogador de futebol, teria sido como encontrar Pelé.

O dia 10 de maio de 2016 for marcante.

Fui recebido em carne e livros na casa do professor Antonio Candido.

De início, fiquei um pouco na retranca, só ouvira falar dele e de suas aulas, dos seus livros, era quase uma lenda para mim. E a gente só fala com lendas quando está em sonhos.

Aos 97 anos, o homem mantinha uma lucidez jovial, pensamento afiado, articulado. Passou a discorrer sobre datas, nomes, eventos da história recente do Brasil. Era como se o século 20 dialogasse comigo.

Enquanto ele falava, lembrei-me do "Hipopótamo de Brás Cubas", que carregou o semimorto Brás "até a origem dos séculos".

Ele falou de seus alunos ilustres: o maior deles, FHC, que confidenciou-me ser a pessoa mais inteligente que conheceu. Eu, cheio de ingenuidade:

– Mas Professor, o senhor conviveu com João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Manuel Bandeira, Sérgio Buarque de Holanda, teve contato com João Guimarães Rosa, como pode dizer que FHC foi a pessoa mais inteligente de todas?

A resposta é um torpedo, é o gênio a se manifestar, não o homem de carne e anos:

– Mas esses todos eu já conheci gloriosos!

Saí do bate papo com o professor meio flutuando entre cada passo, certo de que vivi um dos momentos mais incríveis da minha pouca vida e no futuro poderei dizer aos meus colegas que me aguardam no breve infinito:

– Sim, eu passei uma manhã com Antonio Candido de Mello e Souza.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.