Nazistas tinham campo de concentração exclusivo para mulheres: Ravensbrück, onde Olga Benário Prestes ficou presa
"Assim como Auschwitz foi a capital do crime contra os judeus, Ravensbrück foi a capital dos crimes contra as mulheres".
Quem faz a afirmação é Sarah Helm, jornalista e escritora que em 2015 publicou "Ravensbrück", tijolo de 924 páginas que agora sai no Brasil pela Record. Na obra ela reconstrói a história do campo de concentração para onde os nazistas mandavam as mulheres que consideravam "criaturas inferiores": ciganas, inimigas políticas, doentes mentais, deficientes, certas estrangeiras, marginais… enfim, qualquer coisa que fugisse do tal ideal ariano. Dentre as enviadas para Ravensbrück estavam algumas moças renomadas, como Geneviève, sobrinha do general De Gaulle, que comandou o exército francês na Segunda Guerra Mundial, e Gemma La Guardia Gluck, irmã do prefeito à frente de Nova Iorque no período do conflito.
O que passavam por lá? A triste realidade de todos os outros campos de extermínio: condições mínimas de sobrevivência, sem qualquer tipo de dignidade, com o cotidiano marcado pela comida parca, torturas e o extenuante trabalho forçado – no caso em indústrias da Siemens. Não bastasse, os estupros eram corriqueiros e algumas ainda eram selecionadas como cobaias de experimentos médicos, enquanto muitas eram executadas de maneira totalmente aleatória – a estimativa é que ali entre 30 e 90 mil pessoas tenham sido aniquiladas, sendo que o número mais provável seja uma média dos dois extremos.
Militante comunista ajudou polícia nazista
Outra renomada enviada para tal campo, esta familiar aos brasileiros, foi Olga Benário Prestes, alemã de origem judia, militante comunista que foi companheira de Luís Carlos Prestes. Depois de ser presa no Brasil acusada de promover revoltas contra Getúlio Vargas, a deportaram para seu país natal, onde seria assassinada pelos nazistas em 1942, em Bernburg. Olga foi mandada a Ravensbrück em 1939, depois de passar pelo campo de Lichtenburg.
"Aos domingos, quando a vigilância da SS afrouxava, as camaradas de Olga se reúnem para escrever cartas e conversar sobre suas famílias. Rosa, uma costureira, não sabe escrever, e Olga e outras escrevem por ela, e Rosa devolve o favor ensinando-lhes a coses papéis velhos nas roupas para espantar o frio. Olga mostra as cartas de Prestes e elas discutem as ideias dele sobre filosofia e sobre o que ela deve responder. E falam de Anita [filha de Olga com Luís Carlos]. Todas concordam que Anita deve fazer parte de um coletivo o mais cedo possível. Olga escreve: 'É importante para o seu caráter. Alguém aqui do campo diz isso", registra Sarah, que dedica um bom espaço da obra para a história de Olga. Segundo a autora, a comunista se tornou uma Blockova no campo, uma mulher que ajudava a polícia nazista em seu serviço e, por isso, tinha algumas regalias.
Para escrever o livro, a autora ouviu testemunhos de sobreviventes e fez uma extensa pesquisa in loco para entender as etapas do horror em Ravensbrück. Diferente de outros campos, muitos transformados até em atração turística, o centro dedicado às mulheres permanece até hoje um tanto desconhecido. Projetado por Heinrich Himmler, um dos principais líderes nazistas, ele fica a cerca de 80 quilômetros ao norte de Berlim, em uma área de difícil acesso, à beira de um lago e cercado pela floresta. Por que a escolha por aquele terreno? O sórdido Himmler apreciava levantar os centros de barbárie em áreas de grande beleza natural.

Corpos fotografados em Ravensbrück por Hanka Housková pouco depois da fuga da SS, em 29 de abril de 1945.
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