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Esquecido até alguns anos atrás, John Williams é um escritor obrigatório para quem curte boas histórias

Rodrigo Casarin

11/02/2017 10h44

 

williams

Em 1965 o norte-americano John Williams lançou "Stoner". Apesar do romance ter recebido alguma atenção do público e da crítica, logo foi esquecido. Somente em 2006, 12 anos após a morte do autor, que voltamos a ouvir falar do livro, isso graças a uma reedição lançada pela New York Review Books. Desta vez, no entanto, o trabalho fez um barulho que jamais havia feito. O sucesso veio com elogios de gente como Ian McEwan, Julian Barnes, Nick Hornby e até Tom Hanks. O título passou então a ser traduzido para outras línguas e estimativas dão conta de que já vendeu mais de um milhão de exemplares pelo mundo.

Desde que "Stoner" saiu no Brasil, em 2015, pela Rádio Londres, o nome do autor começou a ser incensado também por aqui. Sim, demorei um tanto para lê-lo, mas, finalmente, no começo deste ano, resolvi encarar tanto o livro que projetou Williams mais de uma década após sua morte quanto "Butcher's Crossing", publicado originalmente em 1960 e lançado no país 2016 pela mesma Rádio Londres. E já adianto: toda a exaltação condiz mesmo com a qualidade do texto do escritor.

Em "Stoner" acompanhamos a vida de William Stoner, que, depois de crescer em uma fazenda, entra na Universidade de Missouri aos 19 anos, em 1910. A história se concentra nos passos pouco interessantes de um estudante um tanto perdido com as novidades acadêmicas e que, com o tempo, torna-se um professor universitário medíocre.

Apesar de não ter um enredo deslumbrante – longe disso, aliás –, impressiona a composição do personagem e como as pequenas intrigas cotidianas conseguem deixar o leitor agarrado à narrativa. Stoner é o tipo de pessoa que parece nunca conseguir tomar as rédeas da própria vida. No amor, prende-se amargamente à primeira paixão que lhe surge, na profissão, sai de uma quase insignificância e prontamente começa a se desentender com colegas. Quando finalmente resolve exercer algum protagonismo em sua história, logo tudo se vira contra a sua ação e ele precisa retornar às sombras. "Stoner" é um retrato triste e melancólico da existência de pessoas que são apenas levadas pelas circunstâncias que as cercam.

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Já o tom de "Butcher's Crossing" é completamente diferente. Aqui temos Will Andrews, jovem de 23 anos que larga o curso de Direito em Harvard e, na década de 1870, viaja para um minúsculo povoado no Kansas. No vilarejo que ele conhece o solícito e beberrão Charley Hoge, o pragmático e mercenário Fred Schneider e o corajoso e autoritário Miller, que se tornam seus parceiros em um longa viagem para caçar búfalos e esfolar suas peles, um bem extremamente valioso naquela época.

Em "Butcher's Crossing", Williams apresenta novamente grandes personagens – Miller, o mais interessante de todos eles, é um grande exemplo, tanto positivo quanto negativo, de liderança – e uma história que demora um pouco para deslanchar, mas, quando engrena, compensa cada segundo investido pelo leitor. O que era para ser uma marcha de conhecimento para um e de realização pessoal, profissional e financeira para os outros, torna-se uma aventura marcada pelos extremos da vida natural.

Quando li, pensei nos fãs do filme "Na Natureza Selvagem": se gostaram do longa de Sean Penn, provavelmente gostarão ainda mais de "Butcher's Crossing". E valem dois alerta: as matanças dos búfalos são de uma tristeza imensa e a cena do quarteto tentando cruzar um rio no final da aventura, com a carroça carregada, é uma das mais marcantes que já me deparei em um livro.

Cada um à sua maneira, tanto "Stoner" quanto "Butcher's Crossing" são narrativas incontornáveis para quem gosta de literatura e de uma boa história. Ótimo que essas preciosidades tenham sido resgatadas do ostracismo.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.