Manuscritos originais revelam um Machado de Assis titubeante e de péssima caligrafia
A Academia Brasileira de Letras (ABL) disponibilizou recentemente em seu site os originais de três trabalhos de Machado de Assis: os romances "Esaú e Jacó", de 1904, e "Memorial e Aires", de 1908, e o poema "O Almada", publicado somente em 1910, dois anos depois da morte do autor.
O primeiro fato que pode ser constatado ao ver os escritos de Machado é como sua caligrafia era bastante sofrível (antes que alguém venha com pedras, já assumo que a minha é ainda pior). Veja os garranchos que compõem "O Almada":
Sim, outro detalhe, este muito mais interessante, é poder observar o processo de criação de Machado, como ele ia e vinha no texto até encontrar o formato que julgava ideal, comprovando que mesmo os gênios – ou principalmente eles – dispendem muita energia até dar forma final à arte. Em "Memorial de Aires", por exemplo, notamos que o escritor titubeava principalmente com relação às personagens Fidélia e Dona Carmo, que tiveram seus nomes trocados algumas vezes. Eis uma amostra de que era Carmo, virou Fidélia e voltou a ser Carmo:
Também é curioso perceber a grafia de certas palavras para a época. Em uma visita rápida aos originais, deparamo-nos com "paciencia", "tambem", "hipotese" e "ciencia" – sim, todas elas sem acento, e isso para ficamos apenas em algumas citações. Veja:
As grafias, no entanto, não eram deslizes do Bruxo do Cosme Velho, mas formas correntes na época. Segundo Sérgio Rodrigues, autor de "Viva a Língua Brasileira!", inclusive aparecem no dicionário "Constâncio" de 1868.
Anteriormente esses originais só estavam disponíveis na sede da própria ABL. A digitalização é parte de um projeto que deverá, aos poucos, deixar on-line todos os manuscritos de Machado guardados na Academia. Quem tiver interesse em ver o trabalho do autor em "Esaú e Jacó", "Memorial e Aires" e "O Almada", basta seguir o caminho aqui explicado.
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