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Com ajuda de Brás Cubas, Machado de Assis vira caçador de monstros em mangá

Rodrigo Casarin

04/10/2016 10h53

machado

Um jovem e talentoso escritor recebe de seu mentor uma importante missão: derrotar os monstros que querem restabelecer no Brasil a Ordem da Noite Eterna, uma antiga sociedade secreta. Para investigar uma série de assassinatos que ocorrem no Rio de Janeiro, no ano de 1867, o escritor conta com o auxílio de dois bons amigos: Brás Cubas, armeiro boêmio que cuida de seus equipamentos, e Quincas Borba III, hipopótamo reencarnando em um gato. Sim, o homem das letras que tem a árdua tarefa de aniquilar as criaturas bizarras é um jovem Machado de Assis.

machadiÉ essa a história de "Machado de Assis: Caçador de Monstros", mangá que tem roteiro de Marcelo Alves, mestre em Linguística pela Uerj, escritor, professor de português e produtor cultural, e arte de Sami Souza, designer, ilustrador e quadrinista. Idealizado por Alves, a ideia do projeto, que busca financiamento coletivo no Catarse, é levar famosos personagens do Bruxo do Cosme Velho, como Brás Cubas e Quincas Borba, a jovens de nossos dias por meio de uma história que se passa em uma época da vida de Machado ainda pouco conhecida: sua juventude.

Para tal, o roteirista apostou em pesquisas históricas, mas também na própria imaginação. "Busquei ler sobre a época, principalmente. Não há muitos livros e informações sobre a juventude de Machado de Assis, o que me deixou livre para imaginar situações e a história. Mas gostaria de destacar o livro de Daniel Piza: 'Machado de Assis: Um Gênio Brasileiro'. Conheci mais desse autor querido que é o nosso Machado e ali pude pensar melhor", conta.

14303883_1203724306314409_764276193_oDessa forma, na narrativa que mistura suspense, ação e fantasia, além de mostrar Machado atuando junto de suas criações, uma personagem real também desponta: Carolina, a futura esposa do escritor. "Como eles se casam em 1869 e a história se passa em 67, achei que seria interessante mostrar um pouco esse lado romântico de Machado, dando a minha versão para a história. Como a ideia é criar uma série – torço por isso -, não está descartado a possibilidade de outros escritores aparecerem".

O diálogo entre monstros e clássicos da literatura não é exatamente uma novidade, ainda que normalmente as criaturas sejam inseridas em obras consagradas – como aconteceu, envolvendo trabalhos do próprio Machado em "O Alienista Caçador de Mutantes" e "Dom Casmurro e os Discos Voadores". "Eu acho muito divertido trabalhar com os clássicos, trazendo novas informações, reconstituindo cenários e ideias, porque renova, alcança novos leitores e só reforça o valor que um clássico tem", acredita o roteirista.

Tentativa de Rouanet

Antes de buscar o Catarse (por onde busca captar R$21 mil), Alves tinha apostado na Lei Rouanet. No entanto, apesar da iniciativa ter sido aprovada, não conseguiu convencer empresas a investirem no projeto – pedia R$109 mil para que pudesse fazer três versões: impressa, digital e audiobooks, parte delas com tradução para o inglês e distribuição gratuita.

14339181_1204235289596644_950663424_o"Busquei empresas que pudessem patrocinar, algumas que pudessem inclusive fazer parte da narrativa. A maioria simplesmente ignorou o contato e algumas poucas que retornaram, alegaram já ter investido em outras áreas. Tive que remodelar tudo para o crowdfunding porque não conseguiria este valor para financiar da forma que imaginei, o que me deixou muito triste. O projeto ainda está em aberto no Ministério da Cultura até final do ano, podendo ser renovado por mais um ano na busca por captação. Se conseguir o financiamento pelo crowdfunding, encerro o projeto no MinC. Caso não consiga, não sei se irei renovar o pedido de captação porque o contato com empresas é muito desgastante", diz Alves.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.