Raras, primeiras edições de “Os Sertões” e “Vidas Secas” vão a leilão em SP
Em 1902, Euclides da Cunha investiu dinheiro do próprio bolso para que a editora Laemmert & Cia publicasse o seu "Os Sertões", no qual reconstrói a Guerra de Canudos. Nas 632 páginas dos mil exemplares impressos, no entanto, mais de 80 erros de português fizeram o autor imaginar que um retumbante fracasso lhe esperava. Nem é preciso dizer o quanto Euclides, alçado à condição de um dos maiores escritores brasileiros principalmente por conta desta obra-prima, estava errado.
Um dos raríssimos volumes ainda existentes da primeira edição desse clássico da literatura brasileira irá a leilão entre hoje, dia 27, e quinta, dia 29, em São Paulo, acompanhado por outras edições da mesma obra. "O Euclides da Cunha financiou essa primeira edição com um conto e quinhentos mil réis. Tal importância era exorbitante para o autor e talvez representasse duas vezes seu ordenado", diz o leiloeiro Luiz Fernando Dutra. Demonstrando quão peculiar é o objeto que será levado à venda e indicando a preocupação do escritor com os erros que passaram despercebidos, Dutra conta que "este exemplar demonstra bem a precariedade da época, já que contém correções feitas a canivete pelo próprio autor".
O volume de "Os Sertões" não será a única peça literária leiloada na ocasião. Um exemplar da primeira edição de "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, publicada em 1956, e outro de "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, de 1938, também poderão ser adquiridos por quem se propuser a dar o maior lance. E se na obra de Euclides da Cunha há marcas de canivete feitas pelo autor, na de Graciliano a particularidade é outra, uma dedicatória na qual se lê: "Para seu Américo, com um abraço. Graciliano. Rio, 1938". O "seu Américo", no caso, é José Américo de Almeida, também escritor, autor de "A Bagaceira", garantem os responsáveis pelo leilão.
"'Vidas Secas' tem capa de Santa Rosa e 'Grande Sertão: Veredas' tem capa de Poty [dois dos capistas mais importantes da história do mercado editorial nacional]. Ambos conservam a capa original da brochura", aponta Dutra sobre os dois volumes. As obras, publicadas pela José Olympio, pertencem à mesma pessoa, um bibliófilo cujo nome não foi revelado, mas que resolveu passar as preciosidades adiante.
"Em muitas ocasiões de nossas vidas podemos começar colecionando isto ou aquilo. Não só pelo prazer de possuir determinado objeto, mas também com o sentimento de preservação da história do Brasil. Em dado momento, o colecionador, pode se encontrar diante de diversos motivos que o leva a se desfazer da totalidade ou parte de suas coleções. Na grande maioria dos casos pela evidência concreta da falta de continuísmo familiar, em outros casos para realização financeira, enfim, fatores diversos", explica o leiloeiro sobre o que leva pessoas a venderem artigos do tipo.
No leilão, outras peças de artistas famosos poderão ser compradas pelo público, como as primeiras edições autografadas de "Criança Meu Amor…", de Cecília Meireles" (lançado em 1924), e Poesias", de Mário de Andrade (1941). Haverá ainda pinturas de Anita Malfatti, Carlos Vergara e Di Cavalcanti, dentre outros, e esculturas de Abraham Palatnik. Promovido pela Dutra Leilões, o preço inicial de diversas peças será de R$1500 (ainda que não revelem exatamente quanto, o preço de partida de algumas é maior, vale alertar).
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