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Bienal do Livro de SP vive crise de identidade e precisa repensar formato

Rodrigo Casarin

04/09/2016 18h27

 

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Qual é o principal objeto da Bienal Internacional do Livro de São Paulo? Ser um lugar onde os expositores vão para vender produtos direto para o público final? Ser um lugar onde os expositores vão para vender livros com descontos? Para passar adiante seus encalhes, uma espécie de saldão? Para mostrar suas novidades e dialogar com os consumidores? Ser um lugar onde leitores podem encontrar, conversar e pegar autógrafos de seus autores favoritos? Um espaço para a discussão de ideias a respeito do livro e do universo que o cerca? Um evento que ponha jovens em contato com obras que, mais tarde, podem levá-las a consumir algo digno de se chamar de literatura? A Bienal é um evento primordialmente cultural ou essencialmente comercial?

A 24ª edição do evento chega ao final neste domingo passando por uma crise de identidade e precisando buscar respostas a essas perguntas para que a Bienal do Livro de São Paulo volte a ter o destaque e a importância que já teve em outros tempos nem tão distantes assim. Se optar pelo caminho puramente mercadológico, de ser um lugar onde as pessoas vão apenas para comprar livros, deverá definhar rapidamente. Em uma época de promoções constantes na internet, não faz muito sentido alguém ir até o Anhembi para fazer algo que pode ser feito de casa, apenas com alguns cliques – ou em qualquer livraria, em qualquer época do ano.

Se optar pela via da relevância cultural – a que mais me agrada, vale deixar claro -, precisa repensar boa parte de suas atrações. Ao se apostar em padres e youtubers o evento realmente contribui para a formação de leitores e para que os jovens criem uma relação de alguma intimidade com os livros? Ou quem compra o livro da Kéfera, por exemplo, o faz somente por ser fã da garota e vê no produto o mesmo valor que veria em algo como um tapete com o rosto da celebridade? A função de uma Bienal do Livro é a de permitir que um fã tenha a oportunidade de ver seu ídolo, mesmo que o livro em questão seja no máximo uma desculpa, não a verdadeira razão para aquela pessoa estar ali?

Claro que as duas vias – a mercadológica e a cultural – podem conviver com alguma harmonia, desde que principalmente a primeira respeite a segunda. A aposta em autores de literatura fantástica e chick lit, por exemplo, também com algum espaço no evento, mostram que é possível trabalhar com atrações que atraem um bom público cativado pelo universo construído em livros, não por razões alheias.

A meu ver, o futuro da Bienal passa, necessariamente, por voltar a prestar atenção no conteúdo dos livros, não encará-lo simplesmente como um objeto, um mero produto.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.