Coleção infantil biografa Clarice Lispector e outras “antiprincesas"
Lindas, de cabelos sempre impecáveis, unhas feitas, arrumadas, com ar virginal e postura fragilizada. Pode até ter uma variação ou outra, mas difícil alguma caricatura de princesa que fuja muito dessa descrição. É para mostrar às crianças que existem outras mulheres em quem elas podem se inspirar que os argentinos Nadia Fink e Pitu Saá criaram a Coleção Antiprincesas, lançada na Argentina pela Chirimbote e que agora chega ao Brasil pela Sur Livros com biografias pensadas para os pequenos da pintora mexicana Frida Khalo, da cantora chilena Violeta Parra e da escritora Clarice Lispector, que, apesar de ter nascido na Ucrânia, veio para o Brasil ainda criança, onde se tornou uma das maiores autoras da língua portuguesa.
"Nossa ideia era contar a história de personagens que fossem provocadores em seu tempo. São todos nomes muito fortes politicamente", diz Saá. "Queríamos mostrar às crianças que é possível romper com os moldes, com os limites. Muitas meninas estão cansadas dessa coisa da princesa convencional. A ideia é contar a história de mulheres que fizeram grandes feitos em vida", completa Nadia em conversa com o blog na Bienal do Livro de São Paulo.
O primeiro livro que produziram foi sobre Frida, personagem que Nadia já havia estudado anteriormente e com nome suficientemente forte para chamar atenção à coleção, cuja estreia aconteceu em abril do ano passado. "A imagem dela é muito impactante, ela é um ícone", diz Nadia. Em seguida vieram as histórias de Violeta, da militar boliviana Juana Azurduy e de dois anti-heróis, os escritores Eduardo Galeano, uruguaio, e Júlio Cortázar, um dos maiores nomes da literatura argentina (esses três últimos biografados ainda não ganharam tradução para o português).
Como iriam estrear no Brasil, a sexta biografada da coleção foi justamente Clarice, outro nome que Nadia já havia estudado. "Quando me aprofundei na trajetória dela, percebi que também era uma mulher de opinião, muito contestadora, a própria antiprincesa", constata a autora. Dessa forma, mostram o inconformismo da escritora com a própria literatura e com as críticas, além de sua postura política. Toda a história é simpaticamente pontuada pela participação de Ulisses, famoso cachorro de Clarice – e um vira-lata, veja bem, nada mais apropriado para uma antiprincesa.
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