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Playmate homem? Destaque na Flip, português já foi até capa da “Playboy”

Rodrigo Casarin

02/07/2016 13h56

 

ricardo

Não é piada: o escritor Ricardo Araújo Pereira, provavelmente o nome que mais surpreendeu o público até aqui nesta edição da Flip, já foi a capa da Playboy de Portugal, seu país natal. "Tinha dado uma entrevista pra eles, mas só descobri que estava na capa quando vi a revista na banca. Eles deviam estar sem dinheiro para contratar alguma mulher famosa, não é possível", diz ele ao Uol, lembrando da inusitada experiência que aconteceu em 2009, quando foi apontado como o português do ano pela publicação.

plaboyrcRicardo esteve ontem na programação principal da festa o lado de Gregório Duvivier e Tati Bernardi, seus colegas de ofício. Mesmo sem forçar piadas, eles que arrancou mais risos da plateia com declarações como "não entendo o Brasil ser o país do carnaval. O carnaval no mundo todo é aquele momento em que tudo é virado do avesso, mas aqui as coisas já são assim naturalmente. O Brasil deveria ser o país da quaresma".

O primeiro livro do autor publicado por aqui é "Se Não Entenderes Eu Conto de Novo, Pá", lançado pela Tinta da China. O volume reúne crônicas escritas entre 2004 e 2012 nas quais o autor mostra um humor marcado essencialmente pela ironia e pelo desapego ao politicamente correto. "Devo dizer, aliás, sem querer ser corporativista, que, se eu mandasse, todas as professoras posariam nuas na 'Playboy'. O Ministério da Educação continua entretido com programas de avaliações e ignora aquilo de que o nosso sistema educativo precisa: professoras nuas", escreve, por exemplo, em "Movimento 'Uma Playmate em Cada Turma'".

"Hoje, principalmente nas redes sociais, as pessoas têm muita dificuldade de entender a ironia. Quando sou irônico, acham que estou dizendo literalmente aquilo, e isso inviabiliza a comunicação", aponta ele, que também participa de programas em rádios, na televisão e foi um dos criadores de "O Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios", que Duvivier apontou como uma das inspirações para a crianção de "A Porta dos Fundos".

senaoenteRicardo se define essencialmente como humorista – "deixamos a palavra 'escritor' mais para o Saramago e o Lobo Antunes" -, contudo, não acredita que seu ofício pode causar grandes mudanças na realidade. "Há um contrato tácito com os leitores, eles esperam de mim o humor. Para muitos, no entanto, rir não é nada de especial. O humor é uma espécie de termômetro que pode mostrar como as coisas estão, mas não um termostato que altera a temperatura. Nos Estados Unidos humoristas escracharam o Donald Trump, mas, ainda assim, ele se tornou o pré-candidato mais votado da história do Partido Republicano. Uma piada não pode colocar fim em uma guerra, por exemplo"

Às vésperas da seleção portuguesa jogar uma das semifinais da Eurocopa, Ricardo também falou sobre futebol, assunto que lhe é bastante caro. "Portugal costuma jogar bem e perde, mas dessa vez está sendo ao contrário. Já fomos chamados de Brasil da Europa por causa do estilo de jogo, mas dessa vez estamos jogando mais parecido com a Itália, mais até do que os próprios italianos".

Escrevendo sobre futebol – mais especificamente a respeito de sua relação passional com o Benfica -, aliás, que atinge alguns de seus melhores momentos, como este da crônica "O Meu Projeto": "Se é para ser adulto e ponderado, dedico-me à química analítica. O futebol não é para isso. Certo adepto do Real Madrid chamado Javier Marías disse que 'o futebol é a recuperação semanal da infância'. E a mim ninguém ganha em criancice".

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.