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Prêmio Camões para Raduan Nassar coincide com sua ressurreição pública

Rodrigo Casarin

30/05/2016 16h38

Raduan discursa no Palácio da Planalto em ato a favor de Dilma.

Raduan discursa no Palácio da Planalto em ato a favor de Dilma.

O escritor paulista Raduan Nassar, de 80 anos, levou o Camões de 2016, tornando-se o 12º brasileiro a conquistar o prêmio que é considerado o mais importante da literatura em língua portuguesa. O júri reconheceu na obra de Raduan a "extraordinária qualidade da sua linguagem" e a "força poética da sua prosa", duas características que lhe são inegáveis. No entanto, por que só agora que o escritor foi reconhecido?

Raduan possui somente três livros em seu currículo. "Lavoura Arcaica", de 1975, e "Um Copo de Cólera", de 1978, são romances quase sempre colocados dentre as grandes peças literárias já produzidas no país. Foram traduzidos para o inglês e francês ainda na década de 80 e, entre o final do século 20 e o começo do século 21, ganharam adaptações para o cinema. Em 1994 ainda publicou o livro de contos "Menina a Caminho". Ou seja, há mais de vinte anos que não temos nada de novo do vencedor do Prêmio Camões deste ano. Sim, acho que a distinção é merecida, mas por que ela não veio antes?

Talvez isso tenha a ver com a postura do próprio Raduan. A partir da metade da década de 80, passou a viver recluso em um sítio em Buri, interior de São Paulo, de onde se recusava a falar com a imprensa e, até onde sabemos, pouco ou nada produziu em termos literários. O autor rompeu com esse isolamento somente há quatro anos, na Balada Literária que o homenageou, na qual esteve presente em uma das mesas – onde pronunciou escassas palavras e distribuiu acanhados sorrisos. Depois disso, começou a aparecer com alguma frequência – parca, é verdade, mas enorme para seus padrões. A que causou mais alvoroço foi no final de março deste ano, quando esteve em um evento no Palácio do Planalto para discursar a favor de Dilma Rousseff.

Sendo assim, difícil imaginar que essa ressurreição pública não tenha pesado na hora do júri do Prêmio apontar um autor que já era amplamente reconhecido pela sua qualidade artística ainda na década de 70 e com as mesmas obras que lhe dignificam atualmente. Hoje, a força midiática de Raduan talvez seja tão forte quando a sua ótima literatura.

Além de Raduan, os brasileiros que já levaram o Camões, que existe desde 1988, são: João Cabral de Melo Neto, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Antonio Cândido, Autran Dourado, Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles, João Ubaldo Ribeiro, Ferreira Gullar, Dalton Trevisan e Alberto da Costa e Silva.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.