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Arroz com feijão é segredo para longevidade de “O Escaravelho do Diabo”

Rodrigo Casarin

16/04/2016 07h00

escaravelho

Escrito por Lúcia Machado de Almeida, "O Escaravelho do Diabo" foi publicado originalmente em 1955 e relançado em 1972, marcando o início da saudosa Coleção Vaga-Lume. Agora, mais de 60 anos depois da primeira edição, sua adaptação chega às telonas pelas mãos do diretor Carlo Milani. O principal segredo para o livro infantojuvenil se manter por tanto tempo em evidência? O arroz com feijão.

"O Escaravelho do Diabo" é uma obra de estrutura extremamente simples: um mistério ou problema a ser resolvido – no caso uma série de crimes excêntricos -, um protagonista com algum parceiros para desvendá-lo ou solucioná-lo e, em segundo plano, uma história de amor envolvendo o personagem principal. É essa a fórmula de grande parte das narrativas que fazem sucesso com o público não apenas em livros, mas também em outros formatos, como no próprio cinema. O título forte – escaravelho e diabo são palavras marcantes, ainda mais quando associadas – também ajudaram a fazer com que a obra sobrevivesse ao tempo.

No entanto, como não poderia deixar de ser para um texto com mais de seis décadas de vida, alguns aspectos da narrativa soam um tanto datados, anacrônicos ou incoerentes para o leitor de hoje. Alberto, o protagonista, por exemplo, vem de família rica – o pai é um físico de fama mundial que, junto da mãe do garoto, passa praticamente toda a história passeando pelos Estados Unidos e pela Europa – e cursa medicina na faculdade, para onde vai de ônibus. Neste Brasil do século 21, um rapaz com suas condições sem dúvidas teria carro próprio.

Galanteador e egocêntrico, uma das pretendentes do moço, no entanto, não gosta muito da ideia dele ser médico, preferia que entrasse para marinha, outro ponto um tanto ultrapassado – ou ter maridos marinheiros ou militares continua sendo um sonho para boa parte das mulheres? Algumas frases também ajudam a detectar o machismo da época em que a obra foi escrita. "Repare como estão malfeitas essas costuras… Qualquer mulher executaria esse trabalho com mais capricho", diz certo personagem sobre uma fantasia.

São pontos a se considerar, claro, mas que, no entanto, de forma alguma atrapalham a leitura de "O Escaravelho do Diabo". Ainda que simples, uma história bem escrita, como é o caso, será sempre uma boa história.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.