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Escritores ajudam evento a levar literatura brasileira a cidades europeias

Rodrigo Casarin

07/03/2016 12h57

primaveralit

"Em um ano que está tão complicado, com eventos literários sendo cancelados, como o Festival da Mantiqueira, e com dificuldade para se conseguir verbas, uma das soluções para que a literatura continue acontecendo é a mobilização. Temos parar de reclamar da falta de dinheiro, arregaçar as mangas e procurar maneiras para executar os projetos. É possível realizar muita coisa mesmo sem a verba pública", é o que defende Simone Paulino, editora da Nós.

simone paulinoSimone está ajudando na organização da Primavera Literária Brasileira, que inicialmente aconteceria somente em Paris entre os dias 21 e 31 de março, mas que foi estendida para outras três cidades europeias: Berlim, na Alemanha, Leiden, na Holanda, e Bolonha, na Itália. Cerca de 30 autores nacionais, como Marcello Quintanilha, Lúcia Bettencourt e Paloma Vidal, passarão por esses lugares para conversar com alunos de escolas públicas e debater a literatura tupiniquim contemporânea em espaços distintos, que vão desde salões de universidades até um café frequentado normalmente por surdos e mudos – a questão da acessibilidade e o diálogo com os diversos tipos de público são duas das principais preocupações de Leonardo Tonus, coordenador do Departamento de Estudos Lusófonos da Sorbonne e o idealizador de todo esse movimento.

Quando Simone diz que é preciso arregaçar as mangas para fazer acontecer, refere-se à maneira que o evento está sendo estruturado, praticamente sem dinheiro diretamente envolvido: cabe aos próprios autores viabilizarem suas viagens. "Cada um está indo por conta própria, bancando passagem, ficando na casa de amigos, dividindo hotéis…. Ninguém está recebendo nem cachê", conta a editora.

Dentre os escritores que integram a programação está também Henrique Rodrigues, que recentemente lançou "O Próximo da Fila", romance sobre as dificuldades de um jovem em seu primeiro emprego, em uma rede de lanchonetes. "Como autor, é uma oportunidade de mostrar meu trabalho em outro país. Uma coisa boa é que vou visitar escola para conversar com alunos e professores. No caso do meu livro, pode ser interessante ter o contato com franceses, onde há muitos jovens também trabalhando em fast-foods, uma realidade que existe em qualquer grande cidade", argumenta ao explicar os motivos para ir à Europa.

Outra autora que participará de alguns eventos é Paula Fábrio, de "Um Dia Toparei Comigo". "Espero contribuir para a formação de leitores em português nas cidades onde darei palestras, pois falaremos para estudantes de literatura brasileira, jovens europeus e de diversas partes do mundo que se ocupam com nossa literatura. Também espero estabelecer bons contatos para conseguir a tradução da minha obra naqueles países. Em termos acadêmicos e pedagógicos, lembrando que faço doutorado em literatura, é essencial essa troca cultural, participar desse tipo de evento, uma vez que os seminários também se darão em universidades. Outra ideia será fazer bons amigos por lá", diz ela.

Leonardo Tonus, idealizados da Primavera Literária Brasileira.

Leonardo Tonus, idealizados da Primavera Literária Brasileira.

Ao falar sobre a Primavera Literária, Tonus assume que é o caráter colaborativo que possibilita que o evento exista e cresça. "Fiz um convite aberto aos escritores, mas sem orçamento nenhum. Podemos receber os autores com carinho, propor mesas em lugares de prestígio, dar uma visibilidade, tenho estudantes traduzindo textos que depois podem ser enviados para agentes e, quem sabe, virarem livros em editoras europeias… É realmente uma troca", diz. "O evento é sempre pensado de maneira coletiva, não com uma curadoria", completa. A programação completa da Primavera Literária Brasileira pode ser acessada aqui.

olhar paris1"Olhar Paris"

A Editora Nós também aproveitará a Primavera Literária Brasileira deste ano para lançar a antologia "Olhar Paris", organizada justamente por Tonus. Na obra, 21 autores que participaram das duas primeiras edições do evento criam textos de diferentes gêneros inspirados na capital francesa. Dentre os escritores estão nomes como Luciana Hidalgo, Sérgio Rodrigues e Marcelino Freire.

"O livro é uma maneira de agradecermos a participação desses autores nas edições anteriores. Queríamos que eles falassem de Paris e isso se tornasse um registro dos dois últimos anos do evento. É uma maneira afetuosa de retribuir a generosidade dos escritores que vieram", diz o idealizador, que planeja fazer algo semelhante a cada edição da Primavera Literária Brasileira. O volume, para o qual foram feitas duas capas, ainda conta com ilustrações de Eloar Guazzelli.

olhar paris

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.