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Encarar “O Nome da Rosa” é um desafio para qualquer leitor

Rodrigo Casarin

20/02/2016 07h49

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"O Nome da Rosa" é o livro mais famoso de Umberto Eco, não há dúvidas quanto a isso – se algum cético precisar de números, saiba que superou a marca de 30 milhões de cópias vendidas. A obra se passa em 1312 e narra a história do frade franciscano Willian de Baskerville, que é chamado para investigar uma série de crimes em uma abadia medieval na Itália. O investigador encontra grande resistência dos religiosos do lugar e descobre que o que está por trás das mortes é a repulsa da Igreja ao riso. Na biblioteca do sagrado lugar, obras apócrifas como o segundo livro da "Poética", de Aristóteles, guardavam em suas páginas uma espécie de maldição.

nome da rosaA história mistura elementos dos romances policias – crimes, investigação, um detetive com seu ajudante, gente querendo prejudicar as apurações, alguns suspeitos –, com elementos ligados à filosofia – a própria referência a um dos textos supostamente perdidos de Aristóteles – e à teologia – todo o conceito da Igreja naquela época. Foi lançada em 1980 e chegou aos cinemas pouco tempo depois, em 1986, em uma adaptação que fez sucesso junto ao público, mas não agradou Eco, que, desde então, sempre que se referia à transposição às telonas, queixava-se das importantes camadas da narrativa que tinham sido deixadas apenas nas páginas do livro.

Mas o título não depende da adaptação para ser uma grande obra. No entanto, nem um pouco fácil. Apesar da trama atraente aos leitores acostumados com histórias pops, cheias de mistérios e reviravoltas, muitos trechos de "O Nome da Rosa" são bastante arrastados, com descrições que eventualmente se estendem por parágrafos gigantes, que chegam a ocupar algumas folhas do livro com mais de 500 páginas. É como, se no começo da década de 1980, Eco escrevesse uma obra com as características caras a grandes nomes do realismo, como Charles Dickens ou Balzac.

Só que o italiano fez isso de propósito. Em entrevistas, assumia que "O Nome da Rosa" tinha partes – como as descrições da colossal biblioteca da abadia – que estavam ali apenas para testar o leitor, para provocar aqueles que liam o volume a largá-lo ou não no meio. Molecagem arriscada, é claro, mas permitida para alguém que quando estreou na ficção já tinha uma carreira acadêmica e uma trajetória relacionada aos livros plenamente estabelecidas.

Nesses trechos, "O Nome da Rosa" se torna um grande desafio para os leitores. Mas o leitor é dono da sua empreitada sobre cada livro, então fica a dica: leia a obra-prima de Umberto Eco, porém, se alguns trechos soarem excessivamente modorrentos, não tenha medo de passar para o parágrafo seguinte. Talvez você só tenha escapado de uma das armadilhas do próprio autor.

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.