Imigrações no mundo repetem “Vidas Secas”, dizem netos de Graciliano Ramos
"As imigrações que vemos hoje pelo mundo são uma repetição do que acontece em 'Vidas Secas', que continua super atual". É dessa forma, remetendo ao grande fluxo de pessoas que atualmente deixam seus países em busca de um lugar para sobreviver, que Ricardo Ramos, escritor e neto de Graciliano Ramos, olha para um dos principais trabalhos de seu avô. No clássico, o autor retrata uma família de retirantes que perambula pelo sertão em busca de um canto que lhes permita continuar vivos. Elizabeth Ramos, ensaísta e também neta de Graciliano, prontamente concorda com seu primo.
Autor de outros títulos fundamentais da literatura nacional, como "São Bernardo" e "Memórias do Cárcere", Graciliano é o homenageado do 11º Fórum das Letras de Ouro Preto (Flop), que começou ontem e vai até domingo, dia 8. A abertura contou com uma discussão sobre a importância do escritor – da qual Ricardo e Elizabeth participaram – e a inauguração de uma pequena exposição com alguns manuscritos do alagoano.
Na conversa que tiveram com o UOL no início da tarde desta quinta, os netos de Graciliano falaram bastante sobre importância do escritor atualmente. "Ele é um clássico e, lembrando de [Ítalo] Calvino, clássicos são textos que nunca terminam de dizer o que tem a dizer, que nunca se esgotam", disse Ricardo sobre a perenidade do trabalho do avô.
"A produção dele é muito fruto da observações da natureza humana. Ele revela o íntimo do ser humano sem maniqueísmos e por isso não é visto como um autor meramente regionalista. Ele nos apresenta o 'humano, demasiado humano' do [Friedrich] Nietzsche", afirmou, por sua vez, Elizabeth. "É verdade, 'São Bernardo poderia muito bem se passar em uma fazenda no interior do Rio Grande do Sul", concordou Ricardo.
Não bastasse o escritor, Graciliano ainda foi um cidadão profundamente engajado. Prefeito de Palmeira dos Índios no final dos anos 1930, preso por confrontar Getúlio Vargas em 1936, membro do Partido Comunista a partir de 1945, sua biografia, não somente sua arte, também pode ser preciosa para os nossos dias. "O que caracteriza o Graciliano político é a honestidade. Tudo o que ele fez foi seguindo suas convicções e está registrado e documentado. Então, ele olharia para nossa atual situação política igual a gente olha, com grande tristeza", acredita Ricardo. Já Elizabeth imagina que o autor continuaria levando todas essas questões para os seus textos de maneira "crítica e engajada, com ironia e acidez".
Em um ano sem nenhuma efeméride que remeta a Graciliano (que nasceu em 1892 e morreu em 1953), toda essa questão política, em especial o tempo que passou no cárcere pelo "crime de pensar livremente" – como registrou o jornalista Joel Silveira em um perfil do escritor publicado 1946 – que fez com que seu nome seja o homenageado desta edição do Flop, que tem como tema justamente a "Diversidade cultural + liberdade de expressão".
O jornalista viajou para Ouro Preto a convite da organização do Fórum.
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